Author Archive

Empoderamiento. ISA/UNA Paraguai e JAMAC Brasil

O PROJETO

“Empoderamiento” compõe-se  de oficina, performance e ação urbana desenvolvidas em Assunção/Paraguai e um debate com projeção de imagens realizados no Brasil. Calco do Inglês “to empower”, a expressão “empoderamento” vem da Sociologia e tem conquistado cada vez mais espaço no campo da Arte. Reflete-se também no conceito de apoderar-se de algo, a fim de questionar os níveis hierárquicos de um objeto ou de uma ideia, tal como nos propõe a Globalização. Este fenômeno é um jogo arriscado que impõe às pessoas a tomada de uma atitude consciente sobre a possibilidade de apoderar-se ou então sofrer o peso de ser conduzido por ele. Jogo idêntico ao praticado pela maior parte da criação artística contemporânea em sua relação com o público.

De modo distinto, a Arte Pública pode ser considerada como uma das atuais formas de conexão entre arte e sociedade, uma vez que dilui as fronteiras entre os indivíduos e sua percepção ética e estética. “Empoderamiento” busca trabalhar nesse ínterim por meio da idéia de calco.

No Paraguai, estabelece contato de cooperação com Faculdade de Arquitetura, Design e Arte da Universidade Nacional de Asunción – ISA UNA e no Brasil, além da Unicamp, organiza seus desdobramentos com a participação do JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube, projeto de Arte Pública coordenado pela artista Monica Nador na cidade de São Paulo.

Organizado por meio de um rearranjo do grupo Pparalelo, esse projeto é conduzido por Sylvia Furegatti e Hebert Gouvea. Dessa forma, estabelece novos pparalelos na figura do grupo participante das distintas etapas de construção do trabalho, entre o Paraguai e o Brasil.

INSTITUTO SUPERIOR DE ARTE – UNIVERSIDADE NACIONAL DE ASUNCIÓN

A aproximação com o cenário produtivo da Arte Pública de Asunción foi feita por intermédio professora doutora da Universidade de Buenos Aires, Teresa Espantoso Rodríguez, Coordenadora geral do GEAP – Latino América quem nos apresentou ao arquiteto e artista visual, William Paats, Diretor Geral do ISA UNA.

O projeto inicia-se com oficinas destinadas a um grupo de estudantes de Arte e Design de Moda da Universidade Nacional de Asunción convidado para o projeto, com a colaboração da designer e professora Regina Rivas (holachicapy.blogspot.com) . A primeira parte dos trabalhos conduz à experimentação dos materiais trazidos do Brasil, com a elaboração de desenhos de mapas e depois promove a construção das peças/colares derivados de modelos reconhecidos de designers internacionais cujo design e materiais possuem efeitos globalizadores, possíveis de serem reproduzidos com facilidade.

As oficinas nos servem como pretexto para a investigação sobre o processo criativo artístico e seus desdobramentos possíveis entre as questões da originalidade, a relação de autoria, auto-estima e monumentalidade. A atividade efetiva-se com a participação desse outro a quem se pretende dar voz, empoderar por meio de uma ação de Arte. Dessa forma, com o apoio do ISA UNA, a especificidade do projeto torna-se bem conduzida, permitindo-nos adentrar esse grupo e comunidade. Ao todo participaram cerca de 15 pessoas, dentre alunos e professores.

OFICINA + AÇÃO URBANA

Depois da coleta de depoimentos e primeiros trabalhos plásticos, vestidos de branco, portando os colares produzidos, o grupo formou uma parada por um trecho da cidade de Asunción que as leva até a Plaza Uruguaia, onde depositam as peças sobre um conjunto recentemente recuperado de esculturas públicas clássicas, adquiridas pela municipalidade no final do século XIX.

“Empoderamiento” busca invocar a requalificação necessária ao papel da Arte no corpo pulsante da Sociedade, uma vez que estreita os limites convencionados para o artista, o designer, o educador e todo agente interessado no fluxo urbano contemporâneo. Suas muitas camadas conceituais e estéticas solicitam que o discurso tenha um espaço tão importante quanto a produção prática. Desse modo o diálogo durante as oficinas e a elaboração de mesa redonda posterior ao trabalho realizado é parte fundamental para a reverberação de suas ideias. Essa ação de arte pública promove o intercâmbio das culturas latino-americanas ao problematizar o lugar de seus agentes no cenário artístico global.

OUTROS CENTROS PARA A ARTE CONTEMPORANEA NA AMERICA LATINA

A escolha do eixo Brasil-Paraguai para esse projeto, além de estabelece-se por meio da noção de site specific art, também busca fugir do eixo convencionado para a produção artística contemporânea que visa sempre os mesmos e conhecidos centros urbanos. Acreditamos que essa parceria estabelecida com o Instituto Superior de Arte da Universidade Nacional de Asuncíon (ISA-UNA) pode promover a revisão necessária à visão generalista acerca de outros centros urbanos latino-americanos e sua produção artística contemporânea.

DE VOLTA AO BRASIL, NOVAS CONEXÕES PARA O PROJETO:  JAMAC | SP

“Empoderamiento” trabalha diretamente com a definição dos anéis locais e globais que formam a cultura contemporânea e busca difundir ao público espontâneo, transeunte urbano ou convidado, o trabalho de artistas brasileiros atuantes nas vertentes da Arte Pública e Urbana contemporânea, tais como Monica Nador e seu projeto JAMAC.

Assim, a continuidade do projeto ocorre por meio de uma projeção de imagens e debate com participantes do JAMAC de Monica Nador, local bastante prestigiado pelas ações artístico-culturais voltadas para a arte pública atual.

CAFÉ FILOSÓFICO NO JAMAC |SP 

No dia 8 de junho de 2013, o projeto realizou sua etapa final no Café Filosófico do Jamac tendo Monica Nador como anfitriã. O videodocumentario produzido em Assunción teve sua primeira exibição no espaço que recebeu cerca de 40 pessoas dentre educadores, artistas, estudantes universitários e comunidade local. Após a apresentação do video, seguiu-se um debate sobre o trabalho de modo a buscar uma revisão de suas etapas, interna e externa, bem como na busca de problematizar as questões abordadas na discussão feita no Paraguay acerca da relação projeto artístico e o público local; a monumentalidade das cidades; a autoestima e a autoria para a arte de hoje e as relações estandartizadas que costumam esteriotipar os países latinoamericanos, bem como artistas e cidadãos deslocados dos principais eixos do mundo.

Para a exposição planejada para essa mesma data, foi criada uma mesa-objeto que apresentou  os registros fotográficos, desenhos e colagens, além de exemplares das peças/colares criados durante a oficina em Assunción. Além disso, realizou-se a distribuição dos folders do Projeto.

empoderamiento pparalelo em asunción paraguay from Pparalelo de Arte Contemporânea on Vimeo.

 

Ficha Técnica:

Concepção do projeto: Pparalelo de Arte Contemporânea

Organização Geral e Apoio no Paraguai: prof. Dr. William Paats – Instituto Superior de Arte. Universidade Nacional de Asunción

Apoio no Brasil: FAEPEX Unicamp; LAB TIC – Laboratório de Tendências, Inovação e Criatividade e Jardim Miriam Arte Clube – JAMAC

Design Gráfico, Fotografia e Video: Hebert Gouvea

Organização das oficinas e condução do Debate: Sylvia Furegatti

Design e construção do mobiliário da exposição: Denilson Corsi

Grupo integrante do projeto:

Profa. Regina Rivas

Alessandra Celauro

Taiana de Jesus Silva

Alejandra Chamorro

Cecilia Dominguez

Antonella Ottaviano

Irina Duarte

Keila Sandoval

Giselle Valiente

Ximena Ojeda


Agradecimentos:
profa. Dra. Teresa Espantoso Rodriguez; prof. Dr. William Paats; Monica Nador e Daniela Vidueiros

[slideshow]

Sylvia Furegatti: Apontamentos sobre a série de plantas

Série de Plantas.
Esse projeto tem inicio em meados de 2006 a partir de um work in progress em um dos ateliês nos quais trabalhei em Campinas. Fusão de desenho, fotografia, objeto escultórico e instalação artística, a proposta emprega materiais orgânicos para apresentar uma sobreposição de marcas visuais elaboradas sobre peles/superfícies, humanas ou de plantas, nas quais se demarcam referencias da memória dos gostos de quem as porta.
As primeiras peças criadas encontraram seu lugar na parede, ao lado das pequenas fotografias que apresentam detalhes de corpos de pessoas com desenhos que criam sobre a pele de cada uma delas, pessoas escolhidas por suas manchas ou pintas naturais, uma espécie de jardim florido, desenhado a caneta. Nas folhas das plantas escolhidas para esse momento, outros desenhos de plantas, novos jardins, portanto.
Em 2009, segundo momento do projeto, em exposição realizada na Galeria de Arte da Unicamp, folhas jovens de “Agave avellanidens” servem de suporte para novos desenhos tatuados em suas peles/superfícies apresentadas em caixas de acrílico transparente, nas paredes. Essas peças recebem o título de “Epiphytas” (Epi=sobre; phyton=planta) e me permitem descobrir o tempo médio de duração do trabalho. Terminada a exposição, as folhas permaneceram perfeitas por cerca de 4 meses.
Em abril de 2013, para a experiência da Ocupação da Moradia Estudantil da Unicamp, as plantas escolhidas são do tipo “Sansevieria Trifasciata”, conhecida popularmente por “Espada de São Jorge”. Dessa vez, as folhas voltam aos vasos e com isso ganham aspecto tridimensional mais evidenciado. Plantadas em latas de leite de alumínio, essas peças portam novas flores desenhadas em branco na parte alta das folhas, bem como seus nomes científicos, pesquisa selecionadas de um dos meus livros de referencia para essa esse viés assumido pelo meu trabalho entre Arte, Paisagem e Natureza, trata-se do livro “Garden of Eden” de H. Walter Lack, Editora Taschen.
Sylvia Furegatti
Abril/2013

A sessão PROCESSO apresenta ideias gerais de trabalhos em construção já apresentados formalmente em espaços expositivos ou não. Abre um espaço para que se apresentem trabalhos e/ou projetos de modo a enfatizar seu processo de criação.

[slideshow]

El cuerpo como arte: el accionismo de Günter Brus

Fabiane Pianowski

Universidad de Barcelona

Texto originalmente publicado Rev. Educ. Fís. N° 122, Abril/Maio/Junho – 2011 e disponível em (https://www.dropbox.com/s/em5ifdsxl3aendp/Pianowski_Fabiane_el%20cuerpo%20como%20arte_revista%20REF.pdf)

El arte relacionado directamente con el cuerpo es una fuerte vertiente del arte contemporáneo. Según la teoría de Pere Salabert (2003), esto es resultado del proceso “evolutivo” del arte que parte de la representación ilusoria y anímica del periodo renacentista con el objetivo de alcanzar la presencia a través del uso de la materia misma en la obra, intentando así aproximar arte y vida. Las obras de los artistas austríacos Herman Nitsch, Otto Mühl, Rudolf Schwarzkogler y Günter Brus, del Accionismo Vienés, son referenciales para pensar la referida teoría. Ese artículo tiene, por lo tanto, el objetivo de demostrar la importancia del cuerpo en el arte contemporáneo, en especial en el contexto del Accionismo Vienés (Aktionismus), y de explicar como la obra de Günter Brus, en particular, presenta el carácter evolutivo que se encuadra en la teoría planteada por Salabert.

Palabras clave: arte contemporáneo; cuerpo; accionismo vienés; Günter Brus.

INTRODUCCIÓN

Dentro del inmenso abanico de posibilidades que componen el llamado arte contemporáneo, hay una vertiente que se dirige específicamente al cuerpo, sus secreciones y sensaciones como forma de afirmar la identidad del individuo y de reivindicar las cuestiones relativas a la sexualidad, género y libertad de expresión. De acuerdo con el filósofo y teórico del arte, Pere Salabert (2003), la búsqueda de la presencia a través del uso del cuerpo en el arte contemporáneo como una reivindicación de la materia y de su carácter mundano, ocurre en contraposición al trascendental y anímico de la representación ilusoria de los movimientos artísticos anteriores. El autor plantea esa búsqueda de modo evolucionista en el contexto de la Historia del Arte, en el que la presencia por el uso de la materia misma va afirmándose en el transcurrir del tiempo en detrimento de la representación, teniendo como consecuencia una mayor aproximación del arte con la realidad.

Ese proceso «evolutivo» no sólo puede ser visto en el transcurrir de la Historia del arte, también en el transcurrir de algunas trayectorias artísticas, como, por ejemplo, en el desarrollo de la obra accionista de Günter Brus, en la cual se pueden constatar tres fases del uso del cuerpo. En la primera, el cuerpo en su totalidad realiza la pintura gestual, en la siguiente, el cuerpo se hace el propio soporte de la pintura y, finalmente, de soporte pasa a ser la obra misma.

Ese artículo tiene, por lo tanto, el objetivo de demostrar la importancia del cuerpo en el arte contemporáneo, en especial en el contexto del Accionismo Vienés (Aktionismus), y de explicar como la obra de Brus tiene ese carácter evolutivo que se encuadra en la teoría defendida por Salabert. Para eso, de entrada se expone el contexto posguerra como un período fértil al surgimiento del arte corporal –y, en especial, del Accionismo Vienés– para entonces contextualizar la trayectoria accionista de Brus y la humanización de su arte.

POST SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: SECUELAS FRUCTíFERAS EN EL CAMPO DEL ARTE

La Segunda Guerra Mundial, una de las guerras más sangrientas de la historia de la humanidad –en la cual murieron, entre los doloridos años de 1939 y 1945, más de cincuenta millones de personas, de entre los cuales seis millones de judíos asesinados por el régimen nazista– nos mostró la capacidad humana de reinventar y reconstruir su existencia sobre escombros, dramas, catástrofes y las más diversas dificultades.

Una nueva Europa ha surgido de los horrores de esta guerra intentando comprender lo efímero de la vida, la superación del dolor, el reconocimiento de la identidad y la violencia de la represión. En ese sentido, la generación posguerra visó, sobre todo, obtener explicaciones para esas cuestiones a través de la conquista de la libertad. El vacío dejado por el violento ritual de la guerra colocó en jeque las concepciones cristianas y, en esa crisis nihilista, la idea de alma como algo puro y eterno y la idea de carne como algo impuro y degradable –elementos históricamente separados– originaria del concepto de cuerpo como algo cargado de materia y de sentimientos y que, en esa nueva perspectiva, pasa a ser considerado la única propiedad que tenemos y sobre la cual debemos tener total dominio.

La libertad que se quiere conquistar es, por encima de todo, la libertad del propio cuerpo, la libertad de ser-cuerpo. Ese deseo será inmediatamente asumido por aquellos que andan en la vanguardia de la historia, es decir, los intelectuales y artistas que en sus producciones van a evidenciar esa búsqueda. En ese sentido, surgirán los movimientos artísticos que pasan a colocar el cuerpo y todas sus secreciones como zona artística, territorio de la acción, de los fenómenos, de los procesos y de la propia obra de arte (como es el caso del Accionismo Vienés), de la performance y del body art. Sin embargo, se debe tener claro que:

“É evidente que a arte do pós-guerra não pode ser reduzida à performance ou às mais variadas modalidades da “arte do corpo/da dor”; é evidente também que não se deve de modo algum reduzir a arte ao nível da manifestação do retorno do recalcado. Também tem sido comum uma leitura da arte a partir de um arsenal advindo da psicanálise sem a necessária mediação com base na reflexão sobre os fenômenos da arte e da sua história. Devemos ter em mente que tanto a psicanálise como a arte possuem um desenvolvimento paralelo no século XX: e esse percurso paralelo não é nem harmônico nem epifenomênico. Mas não há dúvidas quanto ao fato de que um movimento também traduz e ilumina o outro.” (Seligmann-Silva, 2003, p. 35)

En el contexto de las prácticas artísticas dirigidas al cuerpo como la propia obra de arte, Austria será el escenario del Accionismo Vienés, el movimiento más contundente en ese contexto por su carácter pionero y por la violencia impactante de sus acciones. No será por casualidad que ese movimiento –probablemente la más significativa contribución del país al desarrollo del arte contemporáneo– haya surgido en la Austria de los años sesenta. Un país que quedó con profundas cicatrices de los sucesivos conflictos que sufrió desde el inicio del siglo, impregnándose de conservadurismo; pero que, al mismo tiempo, siempre demostró una capacidad artística impresionante y muy comprometida. Como afirma Lórand Hegyi:

“Mediante su fecunda polémica con el legado de su tradición artística, la generación de artistas austríacos de la posguerra ha contribuido considerablemente, y de forma individualizada, a la escena internacional del arte. Los jóvenes rebeldes de entonces, que tuvieron que allanar el difícil camino a través de la tierra de nadie intelectual del periodo de la posguerra, son hoy día artistas de renombre que, en su calidad de maestros y profesores de academia, han transmitido su experiencia a innumerables estudiantes. La censura política del regímen de Hitler produjo enormes estragos en la vida cultural austríaca. Sus cicatrices son evidentes. Pero también es innegable la vitalidad de una nación con una importante tradición cultural que en medio de los escombros de su destruido y maltratado pasado ha sabido encontrar el camino hacia un presente y futuro creativos.” (1998, p. 45)

De esa manera, en la efervescencia de los movimientos contraculturales de los años sesenta y evidenciando el desprendimiento de un sujeto que encuentra sus marcas y su potencia de libertad a través del cuerpo, el Accionismo Vienés se plantea como una auténtica radicalización de las vanguardias, que tiene como blanco la sociedad burguesa, sus represiones y
sus tabúes, y busca, por encima de todo, la comprensión de la identidad y la conquista de la libertad.

Por lo tanto, para comprender las pretensiones del movimiento –a través de la «estética de la destrucción» colocada por sus integrantes en un sentido de que el mismo se “apropia de una dimensión terapéutica y psicoanalítica que legitima su destrucción como fin último de libertad” (Solans, 2000, p. 16)– se tiene que llevar en cuenta la situación del Austria de la posguerra, de la Europa emergente de los años sesenta y de las revoluciones libertarias del 68. No obstante, también es necesario considerar la Guerra Fría, las guerras del Vietnam y de Corea, la reorganización de las estructuras políticas en todo el mundo a través de la expansión de las multinacionales y de la definición de los territorios por el orden económico, que ha clasificado el mundo en tres escalas. Ha sido en este turbulento contexto donde se produjeron las acciones artísticas más radicales, llegando al límite o transgrediendo el límite en la búsqueda excesiva y, por lo tanto, utópica de libertad.

ACCIONISMO VIENÉS: CUERPOVIOLENTADO COMO OBRA DE ARTE

El Accionismo Vienés, entendido como un grupo dogmático y, de cierto modo, cerrado, se desarrolló en Viena entre el período de 1965 al 1970, siendo protagonizado por los artistas austriacos Herman Nitsch, Otto Mühl, Rudolf Schwarzkogler y Günter Brus y por los escritores Gerhard Rühm y Oswald Wiener. Como un predecesor del body art, el Accionismo Vienés, si comparado con otros movimientos como los happenings, performances y Fluxus, se caracterizó como la forma más violenta y agresiva de tratar el cuerpo en el ámbito artístico de su tiempo. Su contundencia ha sido tanta que sus influencias llegan hasta la actualidad, debido, principalmente, a la particularidad que el movimiento asumió en colocar la negación absoluta de
la estética, del artista y del propio arte, bajo el lema de la redención y de la libertad, asumiendo así un papel trasgresor y al mismo tiempo mesiánico y redentor.

Los accionistas consideraban sus acciones, que consistían en el desmantelamiento de tabúes corporales y mentales, como «anti-arte», es decir, creían realizar acciones puras desproveídas de cualquier carácter estético, sin el fin de contemplación o reflexión, en una búsqueda catártica de liberación. El propio cuerpo era el soporte de la obra y los materiales usados eran, además de los instrumentos de corte y perforación, principalmente la sangre y las secreciones del propio «cuerpo-soporte», renunciando, de ese modo, a cualquier tipo de mercantilización.

En el Accionismo Vienés, los cuchillos se convierten en pinceles, el cuerpo en tela y las propias secreciones del cuerpo humano en pigmento, de ese modo, el cuerpo se convierte en la pintura, en la escultura y en la expresión plástica. Finalmente, en sus acciones, los artistas se cortan, se mutilan, colocando en evidencia la idea planteada por Günter Brus de la “destrucción como elemento fundamental en la obra de arte”. De este modo, a través de las automutilaciones de los artistas, se hace posible entrar en la dimensión de un arte terapéutico,[…] “mediante la explicitación de las líneas inconscientes que habrían sido reprimidas por la cultura. Su objetivo sería el de hacer visible lo invisible. Así, el dolor producido, como en un ritual, tendría en último término un sentido liberador, catártico, a través de lo «dionisiaco» purificante y su aparentemente nihilismo se presentaría como una crítica a la religión, la moral y la política, manifestada a través de comportamientos sadomasoquistas que buscan la revolución de la identidad en la no-identidad (es decir, a través de la animalidad y del dolor).“ (Bravo & Merino, 2005, p. 26-27)

El Accionismo Vienés, además de su carácter terapéutico y ritualístico, también se muestra como un arte con carácter político, pues, bajo la ideología que culminaría en el Mayo de 68, había también una tentativa de transformación y cuestionamiento del mundo por la vía revolucionaria. Como afirma la historiadora y crítica de arte Piedad Solans: “El Accionismo supuso un feroz ataque a la sociedad burguesa y especialmente a la Viena de posguerra, con todas sus secuelas monárquicas y militares, desde planteamientos psicológicos –el arte como terapia y liberación de las represiones sexuales, tanáticas y agresivas– y revolucionarios, el arte como política, es decir, como transformación del mundo, dentro del contexto ideológico de las revoluciones de mayo del 68, que conmocionaron Europa y Norteamérica.“ (2000, p. 12)

Para los accionistas el mejor medio para la expresión de sus contestaciones en relación al poder represor del Estado y al comportamiento cínico de la sociedad ha sido el cuerpo, la única cosa que realmente pertenece al hombre y sobre el cual se deposita la cultura de forma más intensa, formando los comportamientos e ideologías. En ese sentido, al colocar el cuerpo en destaque con el sentido del dolor y de la destrucción, los accionistas, por la vía del repudio y del asco y señalando la relación de alteridad, intentaban movilizar el individuo para que volviera su mirada a sí mismo y cuestionara su propia identidad y postura ética.

Los accionistas, pese a que poseían como eje común el énfasis en el y por el
cuerpo como acción artística, formaban un grupo de ideas heterogéneas en el cuál cada artista actuaba de manera individual contando con la intensa colaboración de los demás.

La primera acción del grupo fue presentada, a finales de 1962, por Hermann Nitsch con la colaboración de Otto Mühl, los dos eran pintores y pueden ser considerados los iniciadores del movimiento. En esa acción, de treinta minutos de duración, Mühl vierte sangre de unos pequeños recipientes sobre la cabeza de Nitsch, que estaba vestido con una túnica blanca y atado a la pared a través de unas argollas, como un crucificado. Partiendo de la pintura, el objetivo era demostrar las intenciones del “Teatro de Orgías y Misterios” de Nitsch, que según el crítico de arte José Sarmiento (1999, p. 12), se define como “un teatro de la crueldad sinestésica que invita a vivir de una manera intensa”, y que se caracteriza por salir de la superficie del cuadro para tomar cuenta de un cuerpo vivo y en movimiento, en la búsqueda de la obra de arte total.

Para Nitsch, pintura, pigmento y sangre se mezclan formando un sólo cuerpo, un cuerpo real, no pictórico: “cuando utilizo sangre, la vierto en la superficie del cuadro y la mezclo con los pigmentos, no veo en ello un efecto pictórico sino una entidad real que tiene consistencia física, color, olor…” (Nitsch citado por Solans, 2000, p. 33). Considerando cada acción como un «acontecimiento real», Nitsch rompe con los límites entre el arte y la realidad, entre las substancias orgánicas y los elementos artísticos a través de una actitud repugnante, obscena y perversa que pretende motivar los sentidos del espectador sin que ese participe activamente de la acción. Las acciones de Nitsch inicialmente se restringían a pequeños espacios privados teniendo como espectadores un número reducido de amigos; posteriormente, presenta su trabajo en espacios públicos como museos y galerías. A partir de 1971, el artista compra y convierte el castillo de Prinzendorf en el Teatro de Orgías y Misterios, en el cual ha presentado obras de larga duración como su acción nº 80, de setenta y dos horas, o la fiesta de los seis días en 1998, que puede ser considerada el punto culminante de su teatro.

Otto Mühl se inicia en la pintura a través del informalismo y de la action painting, sin embargo, su búsqueda por un arte que se distancie de la superficie limitada de la tela le conduce a la pintura matérica y a ldestrucción de la superficie pictórica. El artista denomina su práctica artística de «acción material», que refleja su búsqueda obsesiva por “abolir la superficie pictórica y palpar la experiencia vital, erótica, agresiva y tanática del acto artístico” (Solans, 2000, p. 33). En sus primeras acciones, en la década de los sesenta, denominadas Materialaktion, Mühl irá utilizando varios materiales orgánicos,
como todo tipo de comida, además del cuerpo y de sus propias secreciones, con el objetivo de colocar hacia fuera toda la materialidad de la obra.

A partir de los años setenta, Mühl irá a desarrollar un nuevo concepto de acción sobre la influencia de Wilhelm Reich1que él denominará «análisis accional». En las acciones de ese periodo, trabajará con cuerpos desnudos en posturas corporales escandalosas y utilizando frecuentemente objetos cargados de significaciones eróticas perversas, en un discurso que objetiva la libertad sexual y la desaparición de la opresión. Mühl considera cada una de esas acciones como un tratamiento corporal que tanto representa como permite revivir los acontecimientos del pasado, en una especie de terapia.

Influenciado por Otto Mühl y Hermann Nitsch, Rudolf Schwarzkogler abandonará la pintura y realizará, en 1965, su primera acción, que será su única acción pública y también la única en la cual irá a utilizar el color (azul) y la que van a presenciar varios fotógrafos. Las cinco posteriores serán realizadas en espacios privados, con un sólo fotógrafo y limitadas a los colores negro y blanco. Ese accionista no realizará ninguna exposición de sus acciones o de su obra plástica. Sus acciones ocurren en espacios blancos, con pocos elementos (tijeras, láminas de afeitar, cuchillos, cabos eléctricos, jeringuillas, hilos etc.) y la cámara fotográfica como testigo. Su obra será marcada por la alquimia física, alteración formal del cuerpo, atmósfera hospitalaria, castración y violación.

Schwarzkogler pensaba el cuerpo no como algo natural y sí como algo cultural, siendo que para él la cultura era el elemento determinante de las funciones, ciclos, ritmos y de la propia forma del cuerpo a través de los procesos quirúrgicos, alquí-micos, eléctricos y clínicos, lo que tenía como resultado un estado de apariencia, un estado imaginario. De acuerdo con el propio artista, “todos los cuerpos son sólo apariencias, imágenes de la imaginación, estados de la mente creados fuera de su propia volición” (Schwarzkogler citado por Solans, 2000, p. 36-7). En ese sentido, las imágenes fotográficas resultantes tienen una perfección estética, reflejando con un refinamiento formal la angustia, opresión y el silencio. Para ese accionista la imagen fotográfica, más que la acción tiene la plena capacidad de volver a crear las formas de construcción imaginaria del cuerpo a través de la preservación instantánea de los procesos que le conforman.

La fotografía se coloca, por lo tanto, como un elemento esencial de sus acciones, como el propio artista afirma: “el acto mismo de pintar puede ser liberado de la obligación de obtener reliquias como objetivo si se le coloca delante de un aparato reproductor que retoma la información”

(Schwarzkogler citado por Solans, 2000, p. 17). Concluido el ciclo de acciones, Schwarzkogler se vuelve hacia el dibujo y a la escritura conceptual, pero sus obsesiones en relación al cuerpo permanecen y lo llevan al suicidio en 1969, siendo considerado por algunos el mártir del arte corporal.

Günter Brus, por su parte, inicia su actividad artística realizando pintura gestual, siendo que inmediatamente irá a romper con los límites del cuadro e iniciar sus acciones, en las cuáles utilizará el cuerpo como elemento motor de sus investigaciones, como él mismo afirma: “Mi cuerpo es la intención, mi cuerpo es el suceso, mi cuerpo es el resultado” (declaración de Brus realizada en 1966 y publicada en Faber, 2005, p. 187). Su espíritu libertario y contestador lo llevaría a arrancar de su propio cuerpo por medio de sus acciones todas las amarras que el estado y la sociedad inculcaran en su piel y mente, en la tentativa de conseguir un cuerpo y una mente limpios, puros. Realizará más de treinta acciones en el periodo comprendido entre los años de 1964 y 1970, cuando entonces pasará a dedicarse solamente al dibujo y a la escritura. Este artista, como enfoque del presente ensayo, tiene su trayectoria más detallada posteriormente.

Una mirada rápida y distraída puede no percibir las diferencias entre las acciones de los protagonistas del movimiento, produciéndose comentarios generalizadores y, por lo tanto, muchas veces equivocados. Obviamente existe un hilo conductor común que aproxima los trabajos: el cuerpo, como protagonista de las acciones y el objetivo de romper con las represiones del Estado y de la sociedad a través del dolor, del sacrificio, del espectáculo, del siniestro; ahora bien, cada uno de los artistas va a actuar de una manera particular y por un periodo distinto. En ese sentido, Schwarzkogler y Brus fueron los primeros a interrumpir las acciones, mientras Mühl y Nitsch continuaron con más unas décadas. Schwarzkogler interrumpió sus acciones por el propio suicidio y Brus las interrumpió, posiblemente, por la proximidad de la muerte, porque había llegado al límite del dolor y de la violencia sobre su propio cuerpo en su última acción denominada “Prueba de resistencia” (Zerreissprobe, 1970 – 1971). Como afirma Solans, “si ha habido un cuerpo al límite de la muerte, ha sido el de Günter Brus: ello le confiere una autoridad para renunciar al arte –en el sentido más sublime y más abyecto–, la admiración y la congruencia” (2001, p. 12).

En relación al modo de actuación, Nitsch y Mühl son los precursores y se mantendrán “fascinados por la alquimia pura de los líquidos, de las sustancias, de los fluidos y las materias, de los procesos y las mezclas, por la explosión de vida, caos, creación y muerte que se produce al salir de la superficie del cuadro” (Solans, 2000, p. 34). Siendo que las acciones de Nitsch están más relacionadas al sacrificio y al ritual, en un ataque directo a los valores religiosos, mientras que las acciones de Mühl se dirigen más a la liberación sexual por la vía de la perversión y del escarnio. Schwar zkogler irá, en las pocas acciones que realiza, a volverse a la artificialidad del cuerpo, la castración y la violación, recurriendo la atmósfera hospitalaria, las simulaciones quirúrgicas y al ambiente catastrófico. Brus mientras tanto se centrará en el cuerpo –en el propio cuerpo, pues al contrario de los demás accionistas Brus utilizará casi exclusivamente su propio cuerpo para sus acciones, siendo que en las pocas veces que utilizó modelos fueron de su entorno más inmediato: su esposa Anni y su hija Diana– y en sus procesos de resistencia y de purificación, partiendo del cuerpo como un soporte para la pintura hasta llegar al cuerpo como límite de la violencia y de la destrucción.

Debido a la violencia chocante de sus acciones así como el modo particular y original en que cada artista supo utilizar el cuerpo para colocar las cuestiones que los motivaban, el Accionismo Vienés es una referencia a todos los que, de alguna forma, utilizan directamente el cuerpo en la producción artística contemporánea.

GüNTER BRUS: EL CUERPO COMO RESISTENCIA Y PURIFICACIÓN

Günter Brus nació en Ardning (Austria) en 1938. Probablemente, uno de los motivos que impulsaron Brus a desarrollar sus aptitudes artísticas fue el hecho de que su padre, comerciante, era también un aficionado en pintura y poesía, propiciando a él desde pronto el contacto con el mundo del arte y de la literatura. Esos mundos serán para Brus un refugio del ambiente extremadamente castrador y autoritario en que vivía, factores responsables por una adolescencia tímida e insegura. De acuerdo con Brus, ese comportamiento será respondido posteriormente con algunas de sus acciones más violentas.

En 1957, inicia el curso de arte gráfico publicitario en la Escuela de Arte Industrial de Graz, finalizándolo como el mejor alumno, por ese motivo será admitido directamente en la Academia de Artes Aplicadas de Viena, en la cual rápidamente intercambiará las artes gráficas por la pintura. Sin embargo, no permanecerá mucho tiempo en la academia, abandonándola prematuramente. No obstante, su interés por el arte continúa y, influenciado por las obras del modernismo austriaco y del expresionismo, comenzará a realizar composiciones gestuales abstractas. En este periodo, se interesa también por la música y sus recursos expresivos, elemento que le acompañarán desde entonces y que, de acuerdo con Johanna Schwanberg (2005), desempeñará un papel importante en la traducción del corporal para el visual de su pintura gestual y, posteriormente, de sus acciones.

El viaje de trabajo para Mallorca que emprende con su compañero de la academia Alfons Schilling, en 1960, será fundamental para que la pintura gestual se sedimente como una práctica frecuente. En esta oportunidad entró en contacto con la artista norteamericana Joan Merritt y su pintura expresionista abstracta y, además, verá por primera vez los originales de Francisco de Goya en el Museo del Prado en Madrid, artista con quien Brus cree tener un vínculo especial por compartir una actitud crítica frente a las convenciones de la sociedad y del poder, tanto es así que, en 1997, le hace un homenaje con la obra “El procesado por la Inquisición” (De las Inquisit). En el verano de este mismo año, también conocerá las obras del informalismo internacional en la 30ª Bienal de Venecia.

A partir de esas influencias, Brus desarrollará sus pinturas gestuales, en las cuáles rompe con cualquier efecto de profundidad –utilizando, por ese motivo, básicamente el negro como color– y coloca la expresión corporal como el elemento desencadenador de sus pinturas. Su principal objetivo, en ese momento, es traducir el movimiento en visualidad para alcanzar la «pintura total», en la cual pintar como proceso corporal es más importante que la estructuración de la superficie, que pasa a ser pensada como algo abierto y sin centro. A partir de entonces, Brus entiende sus cuadros como «acontecimientos» que forman parte del mundo y que aislados del mundo pierden su significado, como él mismo afirma:

“Ante todo, lo que siempre me ha parecido extraño es que no se pinte con ambas manos a la vez. Bien, si desde un punto de vista técnico he llegado tan lejos como para no poder pintar con el pelo, la barriga o el trasero, ¿qué ocurre sin embargo con mi segunda mano? Hay que vivir en la pintura. Que todo a mi alrededor sea pintura. Sin duda es por ello por lo que el cuadro es una parte del mundo y en sí no tiene autonomía. Una incomprensibilidad espacial (por lo menos no comprensible desde la tradición): eso es lo que yo exijo de mis cuadros. El abandono absoluto de la visión según la cual el centro de la obra está en el cuadro. Y no exactamente en el sentido de Pollock.“ (Declaración de Brus realizada en 1960 y publicada en Faber, 2005, p. 106)

En 1961, Brus enseña por primera vez sus trabajos al público, en una exposición que realizará en asociación con Schiling. En ese mismo periodo, también conocerá a Otto Mühl e inmediatamente después a Hermann Nitsch. Tendrá un contacto intenso con esos artistas, hecho que, sumado sus propias investigaciones dentro de la pintura gestual, conducirá Brus para sus acciones. En ese desarrollo de la pintura gestual, Brus se centra cada vez más en su propio cuerpo y en su motricidad en la hora de pintar, al mismo tiempo en que busca ampliar la pintura al espacio que le rodea. Como consecuencia de esas investigaciones Brus realizará “Pintura en un espacio laberíntico” (Malerei in einem labyrintischen Raum, 1963), en la cual pintó todas las paredes de un espacio reelaborado, con la colocación de tiras de papel prendidos la cuerdas tirantes, con la intención de “fabricar un laberinto que me ayudase a evitar que las ideas compositivas tomasen cuerpo demasiado deprisa. Tenía en mente la idea de trabajar todas as paredes al mismo tiempo, como si de un «cuadrocircular» se tratara; de realizar mediante el desplazamiento constante por el laberinto una «descomposición» ideal” (declaración de Brus realizada en 1964 y publicada en Schwanberg, 2005, p. 54).

Esa búsqueda por una pintura que ocupara todo el espacio y que estuviera en íntima relación con la expresión corporal sumada a las influencias de Mühl y Nitsch, que ya habían realizado algunas acciones anteriormente, llevarían Brus a realizar su primera acción, denominada “Ana”, el año de 1964, esta acción contó en su elaboración con la participación del cineasta experimental Kurt Kren, lo que la ha caracterizado como una «acción cinematográfica». En esa acción, Brus envuelto en trapos blancos se movía por un cuarto blanco para inmediatamente comenzar a actuar con el negro, manchando las paredes y el propio cuerpo; enseguida hizo lo mismo con su mujer Anni, todo ocurriendo en una dinámica bastante espontánea en un proceso de creación de una pintura «viva», dando inicio, de esa forma, a sus «autopinturas».

La documentación cinematográfica y fotográfica, que formaban parte del proyecto de la acción, fue fundamental como registro de lo que se puede calificar como el inicio del «arte corporal» o «body art»(Faber, 2005). Otros documentos importantes en ese sentido son los proyectos de las acciones, una vez que Brus en la mayoría de las veces hacía textos y dibujos preparatorios. Se puede afirmar, por lo tanto, que Günter Brus, en el contexto del Accionismo Vienés, probablemente ha sido el artista que demostró un trabajo más contundente en relación al cuerpo en el contexto artístico y con eso alcanzó una gran repercusión internacional, haciéndose un referente para el «arte corporal», como afirma Peter Wiebel:

“En la autopintura, el cuerpo [del artista] se introduce por primera vez en el arte, y se inicia el arte sobre el cuerpo. Dado que Nitsch trabaja con animales muertos y Mühl (como también posteriormente Schwarzkogler) con los cuerpos de los modelos, la acción corporal, que hoy se considera el momento más importante del Accionismo Vienés, es la auténtica parcela de Brus. Günter Brus es el auténtico fundador del body-art, porque es el primero que en sus autopinturas sitúa a su própio cuerpo en el centro de la acción. Por lo tanto, si hace falta señalar dónde se encarna el cambio de paradigma ocurrido en los años sesenta, de la pintura a la acción, de la pintura sobre lienzo al cuerpo, de la ilusión a la realidad, es la autopintura de Brus.” (Wiebel, 1986, citado por Schwanberg, 2005, p. 55)

A partir de entonces, su obra se encamina a una mayor contundencia de su cuerpo como único medio de su arte, liberándose completamente de la tela, adquiriendo un aspecto de ritual y catarsis social. En ese contexto, produce su primera serie de acciones, como “Autopintura” (Selbstbemalung, 1964) y “Automutilación” (Selbstverstümmelung, 1965). Una característica a ser destacada en esas series es la introducción de objetos como hachas, tijeras, cuchillos, tenedores y lá-minas de afeitar que agrupa sobre sí mismo y en su entorno. Esos objetos se colocan como contrapunto a la vulnerabilidad del propio cuerpo e indican el encaminamiento evolutivo de su obra que va desde la sugerencia de violencia en relación al cuerpo hacía la autoagresión de la serie de acciones posteriores de “Análisis corporal” (Körperanalysen, 1967-1970).

Su octava acción “Paseo Vienés” (Weiner Spaziergang, 1965) será su primera acción pública. Esa acción se caracteriza por el polémico paseo de Günter Brus por el centro de Viena todo pintado de blanco y aparentemente partido en dos mitades por una línea negra, como una «pintura viva», “convertido por la pintura en objeto de arte de aspecto vulnerable” (Schwanberg, 2005, p. 56). Esa acción también marca su primer conflicto directo con el poder, una vez que es interrumpido por la policía y tiene que pagar una multa por tumultuar el orden público.

Otro aspecto importante en la trayectoria de Brus es cuando, en 1966, en asociación con Mühl desarrolla la «acción total», en la cual unifican las «acciones materiales» de Mühl con las automutilaciones de Brus, con el objetivo de unir arte y realidad a través de la desvinculación de todos los medios artísticos tradicionales:

“Los viejos géneros artísticos tratan de reconstruir la realidad, la acción total se efectúa en la realidad. La acción total es un proceso directo (arte directo), no la reproducción de un proceso, el encuentro directo del inconsciente y la realidad (material). El actor actúa y se torna él mismo material: tartamudear, balbucir, mascullar, gemir, resollar, gritar, chillar, reír, escupir, morder, arrastrarse, cubrirse de material.” (Declaración de BRUS realizada en 1966/1972 y publicada en FABER, 2005, p. 166)

La fase de las «acciones totales» serán determinantes para sus acciones denominadas «Análisis corporal» en las cuáles abandonará cualquier tipo de material pictórico, centrándose directamente en su cuerpo, sus funciones y secreciones. En esas acciones, plantea centrarse en ámbitos especialmente tabúes de la sociedad: procesos de excreción, secreciones y excrementos” (Schwanberg, 2005, p. 60). Günter Brus al colocar las cuestiones existenciales como la vida, el dolor y las funciones fisiológicas en evidencia ya no necesita ni del pincel ni de la tinta para crear un trazo, para eso se autolesiona. De igual manera, el color vendrá de las substancias que él mismo produce: sangre, secreciones y excrementos. “El análisis corporal no necesita símbolos, desde ahora es el propio cuerpo, sus funciones, reacciones y excrementos los que constituyen el médium” (Schwanberg, 2005, p. 60). Por lo tanto, en las actuaciones relativas a los «Análisis corporales», Brus no utiliza ningún elemento simbólico que pueda alienar el público de su acción, como ocurría anteriormente en las “Autopinturas” en que utilizaba tinta sobre el propio cuerpo. Según Solans:

“Las acciones de Günter Brus, llamadas «análisis corporal» (Körperanalysen) no tienen un carácter simbólico. El cuerpo, el espacio y los objetos son signos fisiopictóricos que articulan una creación lingüística y semántica expresiva por sí misma. El cuerpo de Brus no existe sino como una semió-tica o gramática de signos cuya unidad básica, elemental, expresiva, es la máxima tensión del gesto mínimo. [… ] Los objetos de agresión (chinchetas, tijeras, alambres, clavos, cuchillos) marcan los signos de una gramática corporal y de una estructura conceptual que no trata de desvelar un sentido, ni tampoco de producirlo, sino de alterarlo, destrozarlo, forzarlo, destruirlo. No se trata de crear significados, sino cortar, herir, rajar la significación.” (2001, pp. 9-10)

En la fase «Análisis corporal», el último ciclo de acciones de Brus, dos de sus acciones merecen especial destaque. La primera se refiere a su trigésima tercera acción, realizada en el acto “Arte y Revolución” (Kunst und Revolution) promovido por la Asociación de alumnos socialistas austriacos en 1968, acto en el cual también participaron Otto Mühl, Peter Weibel, Oswald Wiener y el Direct Art Group. Para un público de aproximadamente cuatrocientas personas, Brus quitó la ropa, se cortó con una lámina de afeitar, bebió su propia orina, provocó el propio vómito, defecó y se frotó en sus excrementos y, finalmente, se masturbó al sonido del himno nacional austriaco. Ese acto se ha configurado como un gran escándalo para la sociedad austriaca y tuvo como consecuencia la detención de sus participantes por dos meses de prisión preventiva, con la justificación de que los mismos habían degradado los emblemas de la nación austriaca y habían atentado contra el orden público. Bajo una condena de seis meses de prisión y del lema mediático que le colocaba como “el austriaco más odiado”, Brus huye con su familia hacía Berlín, ahí permaneciendo hasta 1976, cuando Anni consigue convertir su prisión en el pago de una multa y él puede finalmente retornar a Austria. En Berlín, juntamente con Nitsch, Weiner, Rühm y Bauer, Brus creará el “Gobierno Austriaco en el exilio”, con el objetivo de protestar contra la represión de Viena. La revista “Die Schstrommel”, con sus diecisiete números, será el perió-dico del grupo y se caracterizará como el vehículo céntrico de expresión de la vanguardia austriaca en el exilio.

La otra acción de destaque del periodo de «Análisis corporal» es la llamada “Prueba de resistencia” (Zerreissprobe,1970) realizada en Munich y que marca el fin de su fase accionista, como el propio artista anuncia en sus apuntes preparatorios: “Una prueba de resistencia para los nervios significa un cambio radical de una tendencia de actuación, la interrupción abrupta de una actuación que está en marcha” (Brus citado por Schwanberg, 2005, p. 65). En esa acción, Brus surge completamente depilado y vestido solamente con ropa íntima femenina. En el transcurso de la acción acabará totalmente desnudo y manchado con la sangre resultante de las lesiones que severamente ejecuta contra sí mismo. Se trata de su acción más intensa, en la cual lleva las automutilaciones al límite de superación del propio dolor y en las que, si hubiera continuidad, su fin sería la muerte: “si ha habido un cuerpo al límite de la muerte, ha sido el de Günter Brus: ello le confiere una autoridad para renunciar al arte –en el sentido más sublime o más abyecto–, la admiración y la congruencia” (Solans, 2001, p. 12).

Con el fin de su fase accionista en 1970, Brus consideraba que había agotado todas las posibilidades estéticas relacionadas al propio cuerpo y, en la intención de dar a su pensamiento y a sus sensaciones la posibilidad de expresión a través de medios convencionales, pasa a dedicarse intensamente al dibujo y a la escritura, manteniendo, sin embargo, la misma temática del obsceno, del dolor, de la crueldad, de las violaciones, de los tabúes y de la crítica al poder, a través de una expresión gráfica agresiva y provocadora y al mismo tiempo hiperrealista y fantástica.

ARTE CONTEMPORÁNEO: LA PRESENCIA EN LA MATERIA

El arte, en especial la pintura, según la teoría desarrollada por Pere Salabert, debe ser vista bajo una perspectiva triple: representación, significación y presentación. La representación está de acuerdo con la forma en el arte y tiende a evitar la carga material de las imágenes en provecho de una función más ilusoria, la significación es relativa al proceso que lleva a significar algo en concreto y la presencia se queda a cargo de la materialidad.

En la representación, la forma es fundamental para el arte y la materia tiene un carácter no presencial, siendo «representada» de manera a crear un efecto ilusorio, afirmando la ausencia de la cosa representada, eso es la desubstancialización de la materia, de ese modo la forma pasa a ser abstraída del cuerpo. En ese sentido, el real está inexistente, hay, sin embargo, un concepto de real racionalizado como, por ejemplo, en el Renacimiento a través de los cálculos matemáticos y de la convención de la perspectiva que crean obras en las que se tiene la sensación de que existe un otro mundo, una copia «purificada» de nuestro mundo. El hecho del artista conservar las formas aniquilando la materialidad refleja la necesidad de señalar el aspecto atemporal e invariable de las cosas, con una “apariencia de vida ajena a la degradación física” (Salabert, 2003, p. 20), los artistas intentan paralizar la vida, concluir la naturaleza e interrumpir el tiempo.

En el arte renacentista, el signo es la forma depurada de la materia para crear el efecto ilusorio de la imagen y así conseguir la representación de la realidad de un modo más «puro». En el arte barroco ese efecto ilusorio permanece; sin embargo, asume un otro sentido en relación a la representación de la realidad: la estructura del signo, o sea la apariencia sensible de las cosas, se modifica, pues mientras que en el arte renacentista no es posible notar la marca del pincel y de la capa pictórica, en el arte barroco esos elementos serán claramente visibles, indicando un encaminamiento a la materialidad del arte. Como ejemplo, se tiene Rembrandt (1606-1669) que produce las formas a través de la textura de las pinceladas, creando con eso un efecto ilusorio de la realidad distinguido del efecto creado por las obras renacentistas. Además de eso, a partir de ese momento, el artista se hace presente a través de la evidencia de las marcas del pincel o de sus propios dedos en la pintura.

Se observa, por lo tanto, que en la medida en que la Historia del Arte avanza, la racionalización del real y la desusbstancialización de la materia van deshaciéndose poco a poco para llegar al retorno de la realidad misma a través del uso de la materia en sí, como nos muestra el arte contemporáneo. Eso se da por el juego que ocurre entre la representación del signo y presentación (presencia) del signo que resultan en una mayor o menor significación del signo, como resultado tenemos que un Rembrandt parecerá más real que un Caravaggio (1571-1610), que parecerá más real que un Mantegna (1431-1506) y así sucesivamente. Lo que no debe ser olvidado es que siempre toda forma artística está integrada por signos y estos tienen una presencia, sin embargo, en algunos casos esa presencia quiere pasar desapercibida como en el Renacimiento
(ilusoria), o sea, como si no hubiera alguien por detrás de la producción de las obras y en otros, al contrario, la presencia es la propia justificación de la obra, como en el Accionismo Vienés o en el body art,en los cuáles la materia misma se hace presente; más que eso, el propio cuerpo del artista y sus secreciones (sangre, sudor, lágrimas, orina, semen, heces etc.) son la obra de arte.

Esa relación es contradictoria a lo que sostiene el filósofo español José Ortega y Gasset (1967), para quien el arte moderno se alejaba de la realidad, al perder su forma como elemento reconocible al dejar de lado los temas tradicionales de la vida cotidiana que hasta entonces formaban parte del arsenal artístico. Para este pensador, como sugiere el título de su libro, el arte se deshumaniza, pues acredita que los artistas tienden a desconsiderar el aspecto de la realidad vivida y de su cotidiano. No obstante, para Salabert el arte se aproxima de la realidad justamente por el énfasis en la materia misma, su presencia se hace mucho más «viva» que su representación.

HUMANIZACIÓN DEL ARTE: ANALIZANDO LA TRAYECTORIAACCIONISTA DE GÜNTER BRUS

La «evolución» del arte, propuesta por Salabert, en el sentido de la búsqueda de la realidad a través de la presencia, o sea, a través del uso de la materia como la propia obra de arte, no sólo es posible de ser verificada en la Historia del arte, como también en la trayectoria de algunos artistas. En ese sentido, la producción artística obra de Günter Brus, desde sus pinturas gestuales hasta sus análisis corporales (1960-1970), es categórica, porque en ella es posible verificar esa evolución, esa búsqueda por la presentificación, en la cual la materialidad es dada por la intensidad en que el cuerpo va haciéndose presente.

En la fase de las pinturas gestuales, Brus todavía actúa con materiales pictóricos sobre la superficie bidimensional. No obstante, su cuerpo de manera indirecta ya está presente en sus pinturas, una vez que aprovecha toda su gestualidad y expresión corporal para realizar las obras, con el objetivo de traducir el movimiento en visualidad. Incluso en sus primeros trabajos, hechos con lápiz sobre papel, la necesidad de colocarse en la obra era tanta que Brus rompía el papel, mostrando la organicidad de la superficie en que actuaba, enmarcando su presencia en la obra realizada. En sus pinturas, la presencia del cuerpo del artista va paulatinamente asumiéndose como elemento céntrico de la obra y la pintura ya no se limita la una tela, al contrario, se expande al espacio como uno todo, como puede ser verificado en su obra intitulada “Pintura para un espacio laberíntico” (1963).

A partir de esa obra, como ya dicto anteriormente, Brus se encamina hacia sus acciones, en las cuáles el cuerpo ya no se enuncia, como en las pinturas gestuales, pero, al contrario, pasa a ser la propia obra. Sin embargo, aún en su trayectoria accionista es posible verificar una intensificación de la presencia del cuerpo en el transcurrir de las distinguidas fases que compone esa trayectoria. En su primera acción, denominada “Ana” (1964), Brus se cubre con tiras de tejido en la intención de mostrar que el cuerpo asume el papel de «tela» y que, por lo tanto, la pintura se dará sobre él y sobre el espacio en que se encuentra, como si la clásica tela blanca se ampliara a la tercera dimensión. Como en sus pinturas gestuales, el negro será el color usado para pintar su propio cuerpo, el espacio y el cuerpo de Anni, de manera a concretizar su «pintura viva». Nótese, sin embargo, que Brus todavía se utiliza de material pictórico (tinta blanca y negra) y el cuerpo es utilizado solamente como soporte de la pintura, no protagonizando la acción, una vez que el cuerpo tiene la misma importancia que los elementos que le rodean y el espacio en que se encuentra.

En la fase de las “Autopinturas” y “Automutilaciones” (1964-1965), pese a que todavía se utiliza de materiales pictóricos, el cuerpo ya comienza a ser protagonista de la acción, lentamente dejando de ser simplemente soporte para la pintura. Eso se dará de forma mucho más conceptual que práctica: el cuerpo y sus sensaciones no actúan directamente en la acción, pues no hay ningún proceso efectivo de mutilación y de dolor, así como no se utiliza de las substancias producidas por el propio cuerpo, sin embargo la colocación estratégica de instrumentos como hachas, tijeras, cuchillos y láminas de afeitar indican la vulnerabilidad del cuerpo, o sea, indican el protagonismo que el cuerpo podría asumir dentro de la obra en el caso de que los instrumentos presentes fueran utilizados.

En la última fase de sus acciones, Brus abandonará totalmente los materiales pictóricos para colocar el cuerpo en total evidencia. A partir de entonces el cuerpo, y solamente él, será el protagonista de la obra. El color será el resultado de las secreciones que él produce: sangre, orina, semen, excrementos etc., y el movimiento será la reacción del cuerpo a los procesos por los cuáles es sometido. En ese momento, los instrumentos, antes con su acción enunciada, ahora son efectivamente utilizados. El cuerpo pasa entonces a ser la propia obra de arte, pura materia, presencia viva, la realidad en sí misma. En la trayectoria artística de Brus, la presencia pura del cuerpo como obra de arte encontrará su ápice en su última acción “Prueba de resistencia” (1970), en la cual su propio cuerpo fue sometido a varias mutilaciones que lo llevaron al límite del dolor y de la autosuperación.

La obra accionista de Günter Brus se presenta, por lo tanto, en una creciente presencia del cuerpo como centro de la obra de arte, que es posible de ser vislumbrada como una línea evolutiva, teniendo bien marcados sus puntos de inicio, medio y fin. De ese modo, su trayectoria accionista corrobora, con la idea de un arte suculento, que para Salabert significa: “este arte que interroga nuevamente el cuerpo, que recupera la materia, impulsa su retorno al tiempo y la mundanidad y por tanto indaga la corrupción. Arte suculento: substancialidad de la carne, presencia copiosa, cuerpo opulento” (2003, p. 37). Brus, de ese modo, humaniza el arte y hace que la búsqueda vanguardista, de unir arte y vida, si concretice.

NOTAS FINALES

1 Wilhelm REICH (1897-1957), médico e investigador austriaco, que ha dado grande énfasis e importancia al desarrollo de una libre expresión de los sentimientos sexuales y emocionales dentro de una relación amorosa madura. Reich ha enfatizado la naturaleza esencialmente sexual de las energías con las cuales trabajaba y ha llegado a creer que la meta de la terapia debería se la liberación de los bloqueos del cuerpo y la obtención de la plena capacidad para el orgasmo sexual. (Informaciones retiradas de http://www.psiqweb.med.br/persona/reich.html)

BIBLIOGRAFíA

Amezcua Bravo, José & Sanz Merino, Noemí (2005). Accionismo Vienés: ¿Arte o violencia real? Círculo Hermenéutico, Revista CH,5. Recuperado en abril de 2011 de: http://www.circulohermeneutico.com/RevistaCH/revistach.htm#ch5

Faber, Monika (Ed.) (2005). Günter Brus: Quietud nerviosa en el horizonte. Catálogo de exposición. Barcelona: MACBA.

Hegyi, Lóránd (Ed.) (1998). La visión austríaca: posiciones del arte contemporaneo/ The austrian vision: positions of contemporany art. Catálogo de exposición. Viena: Museum moderner Kunst Stiftung Ludwig Wien.

Ortega y Gasset, José (1967). La deshumanización del arte. Madrid: Revista de Occidente.

Salabert, Pere (2003). Pintura anémica, cuerpo suculento. Barcelona: Laertes.

Sarmiento, José Antonio (1999). El arte de la acción: Nitsch, Mühl, Brus, Schwarzkogler. Catálogo de exposición. Canarias: Viceconsejeria de Cultura y Desportes/Gobierno de Canarias/D.L.

Seligmann-Silva, Márcio (2003, janeiro/junho). Arte, dor e kathársis ou variações sobre a arte de pintar o grito. ALEA, 5(1).

Solans, Piedad (2001). Günter Brus: el corte del lenguaje (prólogo). En Brus, Günter (Ed.). Veda abierta a los exterminadores. León: Universidad.

Solans, Piedad (2000). Accionismo Vienés. Madrid: Nerea.

Schwanberg, Johanna (2005). “No soy yo quien vive, sino mi arte” – Günter Brus: del accionista al pintor-poeta. En Faber, Monika (Ed.). Günter Brus: Quietud nerviosa en el horizonte (pp. 51-93). Catálogo de exposición. Barcelona: MACBA.

Belém, cidade centro do mundo.

“Intervenções da Arte na cidade centro do mundo. Arte pública em Belém” foi um projeto de oficina somada a uma intervenção artística organizada por meio da combinação de esforços do GEAPPA – Grupo de Estudos sobre Arte Pública do Pará – UFPA, Desafios Contemporâneos da FUNARTE e SESC Pará. O projeto ocorreu em duas etapas, ao longo de uma semana, na qual foram realizados encontros para discussão e produção de três painéis para o espaço da oficina do SESC Boulevard e uma ação urbana baseada no projeto “Kleemania” de Hélio Oiticica, efetivado com a ajuda de um grupo de amigos e convidados, no bairro do Caju, Rio de Janeiro, em 1979.

O grupo participante da oficina proposta para a cidade de Belém formou-se por artistas, arquitetos, historiadores, geógrafos, lingüistas, além de estudantes de arte da Universidade Federal do Pará. A contextualização dos encontros explorou as formas de arte pública e urbana no mundo contemporâneo por meio dos elementos trazidos pelos universos convergentes dentre Arte, Paisagem e Cidade.

O projeto para os painéis teve inicio com a proposição de uma revisão plástica e conceitual do mapa da cidade de Belém e do conceito de centralidade, seja da própria cidade-capital-Belém, seja pela ideia de centralidade apresentada hoje no circuito artístico. Os conjunto final desses painéis foi ocupado individualmente pelos integrantes da oficina a partir de colagens, desenhos, pequenas maquetes de papel e demais inscrições de objetos e imagens da visualidade dos arredores do SESC, localizado em frente ao conhecido Mercado Ver-o-Peso.

Ao final encontros da oficina, ainda no espaço interno do SESC, o grupo trabalhou o mapeamento de novos centros a serem criados pela intervenção planejada para o último dia do projeto. Em pequenos grupos viabilizou-se a ação nas ruas da área central num percurso que partiu da área dos fundos do prédio do SESC em direção a Praça da República, reconhecida por suas dimensões generosas a projetos de intervenção artística, tanto quanto pela diversidade cultural e social que abriga.

Ao longo desse trajeto, cada participante ou pequeno grupo formado dentre eles, estabeleceu um ponto, um novo centro para elaborar sua intervenção a partir da estrutura vazada e quadrada, tal qual aquela utilizada por Oiticica em seu primeiro de vários “acontecimentos poético-urbanos” da cidade do Rio de Janeiro. Os materiais empregados foram diversos (carvão, sementes, gelo, folhas, flores, serpentinas, etc) bem como os locais e condições de visualidade estabelecidos. Todos eles demarcaram ações efêmeras na paisagem, perfeitamente absorvidas pela própria condição urbana dos locais visitados e pontuados. Ao todo, foram realizados 15 pontos de intervenção com as novas Kleemanias.

O grupo, híbrido e participativo, foi muito importante para a qualidade do debate e escolhas estabelecidas nessa semana de trabalho conjunto. O resultado assumiu uma condição de passagem, tanto na etapa interna quanto externa, e sua condição efêmera provocou o curto-circuito desejado no cotidiano local. A proposta acabou desdobrando-se na rede virtual formada pelos participantes e oferece hoje a possibilidade dos muitos ângulos registrados fotograficamente por todos.

O deslocamento promovido pela oficina pode confirmar o pressuposto que deve carregar todo viajante do Sudeste até o Norte do Brasil, ou seja, o de que a produção contemporânea nos oferece desafios a serem partilhados pelas distintas formas de distância geradas na Globalização atual. Muito diferentemente de concordarem com a ordem estabelecida pela caricatura tropical, usualmente aplicada aos grupos locais, o que se confere na cena urbana cultural de Belém é uma qualidade crítica atenta às propostas da criação artística contemporânea. O centro é aqui, também.

Ficha Técnica do Projeto:

Período da Oficina: de 17 a 22.09.2012
Concepção e coordenação geral: Sylvia Furegatti
Coordenação do GEAPPA : Ubiraelcio Malheiros
Monitores | GEAPPA: Ediberto Nunes Negrão Junior e Yone de Carvalho
SESC Boulevard | Área de Artes Visuais: Marcio
Técnica Responsável | Funarte RJ: Vera Rodrigues

Grupo Participante:
Cilene das Mercês Barreto Nabiça, Luiz Guilherme dos Santos Junior, Danieli dos Santos Pimentel, José Sena Filho, Ingrid Souza da Silva, Paulo Sergio das Neves Souza, Fernando de Pádua Azevedo, Rosangela F Modesto, David Beget Luiz, Humberto B de Freitas, Samuel Sousa da Silva, Norma Lima Moreira, Telma Saraiva dos Santos, Marcely Gomes Feliz, Ana Paula Correa de Souza, Evila Lorena Nascimento, Monik dos Santos Silva, Isley Martins e Souza, Danilo Pontes B Peres, Larissa Costa, Danielle Cruz Pauxis, Sabrina Correa Pena, Suellen C da Costa, Marcio Campos Monteiro, Nágila Lima d’Oliveira, Eliane da Silva Freitas, Felipe Gustavo, Evna Mara M Gutierrez, Murilo Carvalho Rodrigues, Eliane Cristina da Costa, Danilo Pontes, José Diogo Lira Costa, José Domingos Siqueira Junior.
[slideshow]

Moda e Arte. Anamorfoses do Corpo Contemporâneo

Texto resultante do trabalho de conclusão de curso da Especialização em Artes Visuais ART-120 do IA/UNICAMP. ago.2011

Resumo

Moda e arte sempre dividiram uma mesma categoria dentro da cultura. No mundo contemporâneo, claramente distinta em suas intenções quando analisada mercadologicamente, a Moda demonstra uma vertente criativa que pode ser entendida a partir do campo da indústria , mas igualmente pautada por parâmetros da arte como campo de investigações criativas. Nesse sentido,  percebe-se que a práxis dos seus criadores, principalmente aquela vinculada aos aspectos escultóricos e arquitetônicos, aproxima-se da Arte, de modo a promover uma simbiose frutífera para os distintos circuitos, exemplificados em alguns casos como veremos a seguir.

Dessa forma, a pesquisa procura abordar os caminhos possíveis para a dissolução de alguns dos limites entre os sistemas da Arte e da Moda, a partir da produção cultural da década de 1960, entendendo a roupa como elemento tridimensional.

 

Arte e Moda. Breve Estudo de suas relações históricas.

Em sua História, a Moda guarda seguros referenciais artísticos que sofrem descrença à medida em que a Sociedade se organiza pelo advento da era industrial, quando então essa modalidade de criação e expressão humana adere, sem tanta resistência, ao complexo sistema de consumo das sociedades massificadas que acabam por deixar o elemento artístico em segundo plano, como explica Gilde de Mello e Souza em seu livro, “O Espírito das Roupas” (1987). Porém, apesar desse afastamento entre os sistemas da arte e da moda, os elementos compositivos de cada um podem ser analisados de maneira muito semelhante, e contrariamente ao que é alardeado de modo geral, as trocas entre os sistemas acontecem freqüentemente, durante o século XX, evidenciadas pelas estampas e pela estrutura.

Uma segunda visão sobre a questão é adotada por Frédéric Godart a partir do que entende como uma mudança social específica, ou seja, mudanças não cumulativas e profundas na sociedade, diferente da arte e da ciência que se sobrepõe aos acontecimentos anteriores, a cada seis meses ou menos algo novo surge na moda e é incorporado gradativamente pelas parcelas da sociedade, modificações que reverberam para a música e costumes.

A moda serve, portanto, a uma estrutura social, funcionalista atrelada a um conflito de desejos individualizadores e socializadores. Seus criadores não necessariamente forçam algum sentido para o seu fluxo de novos lançamentos, o que é entendido na atualidade como tendência que mas devem ser sensíveis aos esgotamentos e novas demandas da sociedade para a criação nesse campo.

Assim, importa menos avaliar a relação entre arte e moda apenas por suas características estéticas, mas parece ser mais interessante promover uma análise que a insere nas oscilações de seu contexto social e temporal de forma a proporcionar leituras sobre o comportamento das pessoas e formato próprio do corpo que se recombina a partir do desenho das roupas, de modo mais evidenciado no radicalismo da visualidade do mundo contemporâneo.

Fechado em seu estúdio, ambos personagens, o artista e o designer, elaboram novas peças que lidam com questões formais muito semelhantes como o equilíbrio de volumes, ritmos, linhas e cores. A criação deve ser coerente com seu projeto e adequada aos seus múltiplos propósitos.

Quando a abordagem considera o conceito criativo do objeto da Arte e da Moda, percebe-se que as trocas são ainda mais diretas. Gerald Heard, em seu texto “Narcissus: an Anatomy os Clothes” (1924) diz que as formas da Arquitetura de uma época determinam as formas e estampas da indumentária do mesmo período. O autor coloca que “a Arquitetura afetou a roupa, as roupas modificaram a anatomia”[1]1 referindo-se diretamente a estética do Art Nouveau, circunstância que se acredita não apenas pontual mas passível de ser analisada em outros momentos históricos. Exemplos dessa aproximação são aparentes na relação entre os arcos ogivados Góticos e a aplicação desta forma na vestimenta desse período Medieval.

James Laver vai mais longe e entende que, com o passar do tempo, a Moda confirma um status de precursora do gosto que é então traduzido para a decoração e a arquitetura[2]. O autor defende que é inicialmente, nas roupas que o funcionalismo se mostra necessário, Essa circunstância funcional é aplicada no uso de novos materiais para a confecção de móveis e profundas inovações na arquitetura sentida, principalmente, a partir dos anos 1930.

De qualquer maneira, é possível perceber que ambos concordam em haver um intercâmbio estreito no campo criativo, técnico e funcional entre as áreas. Muitos autores passam a compreender essa simbiose pelo que se determina como Zeitgeist[3], o “espírito de uma época”, estudado pelo Romantismo Alemão e alardeado ao, longo do século XX, nos mais variados campos da criação humana.

 “O espírito do tempo nada mais é que o espírito dos homens que estão no poder.”

Goethe[4]

 No Brasil é possível classificar o Zeitgeist a partir de uma confluência sentida entre o proposto pelo s filósofo alemão Goethe e os conceitos apresentados na produção multi-linguística de Helio Oiticica, de modo particular, em seu texto “Esquema geral da Nova Objetividade”[5], de 1967. Nesse texto o artista-autor elege características para a arte produzida naquele momento como: vontade construtivista, participação do espectador, posição política/social e a coletividade. Desse modo, os elementos utilizados por Hélio Oiticica tanto na produção artística, quanto textual, influenciam tanto os criadores de outras áreas como os designers de roupas daquele período e ecoam até os dias atuais, quanto  se inserem no contexto social brasileiro. A atitude multi-disciplinar de Oiticica estabelece portanto identidade nacional ao dialogar diretamente com tantas camadas da sociedade e gerar com isso uma nova movimentação no cenário cultural.

A complexidade das trocas de significados adotados pela Arte e também a Moda deste período propõem intercâmbios entre a alta e a baixa cultura, como acontece com os “Parangolés” de Helio Oiticica. A cores, o samba e o povo são evocados para ativar a obra diante do MAM-RJ.

Um exemplo da relação íntima entre artistas e designers na década de 1960 no Brasil é a colaboração de nomes como Alfredo Volpi, Manabu Mabe, Tomie Othake, Iberê Camargo, dentre outros, durantes os desfiles promovidos pela empresa multinacional Rhodia que produz tecidos no país desde então.

Inicia-se neste momento uma relação daquilo que é produzido no Brasil tido como tipicamente brasileiro, e questões como local e global são necessariamente discutidas para entender a roupa que se produz neste período no país. Elementos que relacionam a alta costura internacional, neste caso a francesa, e associado à ela pedras, penas e peles brasileiras.

 

A idéia de uma Escultura para vestir

O dado da fragmentação torna-se, ao longo do século XX, elemento recorrente na criação do mundo pós-moderno.  Junto do  valor fragmentário, a recombinação , as distorções e revisionismos efetivam-se nos processos de criação desse período.  A conjugação criativa passa a depender da inteligência de seu autor no emprego desses valores. Arte e Moda compartilham dessa mesma determinação. Um dos elementos caracterizadores desse novo universo revisitado é a anamorfose.

Para entender as possíveis reconfigurações do corpo pós-moderno cabe entender que “Fragmentar, decompor, dispersar: essas palavras se encontram na base de qualquer definição do “espírito moderno”[6]. A autora completa que :

“do fragmentado ao corpo ausente (…) a época assistiu a esse empenho de dissolução orgânica na estética (…) A supressão da identidade corporal chegava então ao seu grau zero (…) colocando alguns artistas a inquietante tarefa de representar uma figura que parecia ter perdido, por completo, a sua silhueta[7]

A anamorfose é conhecida como uma reformulação visual ou o objeto formado novamente. Esta reconstituição da imagem projetada para Leonardo da Vinci surge para resolver um problema de perspectiva. Em um jogo de distâncias em relação ao objeto representado força o espectador a olhar através de um furo numa divisória para a percepção do ponto de vista exato da obra[8]. Considerando apenas o desenho que estava por trás nesse mecanismo, independente do seu ponto de vista, é representado com deformações derivadas da perspectiva linear. Para solucionar esse impasse o artista pesquisa em seu caderno “Codex Atlanticus” (1485), diferentes possibilidades de anamorfoses, como a curva ou cilíndrica.

Em Moda, entende-se também como anamorfose, a aplicação de efeitos sobre um modelo de corpo que sofre mutações diretas, sem estágios intermediários, no qual o resultado final apresenta alterações na forma, escala, ou através de distorções ópticas. Logo, a aplicação de novas formas por meio de plissados, enchimentos e amarrações, foi refazendo, ao longo dos séculos, a silhueta típica, de modo a alterar incisivamente o corpo vestido de uma época. Essa diversidade de silhuetas construídas nos possibilita estudar concomitantemente roupas, medidas e proporções dos corpos que as vestem.

Dessa forma, o ato de vestir sugere que o objeto vestido estava inacabado e necessita da atuação do ser humano que o porta para que então essa peça exista de maneira completa. Dessa mesma maneira Um quadro ou uma escultura também solicitam, na passagem da arte moderna para a contemporânea, maior interação com o público que os ativam. Atitude e Ação passam a ser associados à criação e à apresentação desses projetos criativos das artes visuais e da moda.

A existência de uma roupa ou “escultura vestível”, termo empregado por Luiz Hermano e Laura Lima em seus trabalhos artísticos, refaz-se a cada movimento, abrindo assim uma infinidade de leituras de acordo com quem veste, dependendo também do lugar onde esse sujeito está. Dessa forma, podemos compreender essa criação como algo em constante construção, obra eternamente inacabada, sem molduras que definam os pontos onde começa ou termina. Sua condição, como será demonstrado na seqüência desse texto por meio da eleição de alguns autores, artistas e designers, está fadada ao imprevisto.

 

O jogo das Aproximações e Distinções

Para entender o jogo de aproximações e afastamentos da figura humana, provocado por elementos artísticos vestidos ou propostos pelo artista, é essencial abordar três dos principais precursores desta linguagem. São eles: Flávio de Carvalho, Helio Oiticica e Lygia Clark.

Flávio de Carvalho, na década de 1930 e os Neoconcretos cariocas Helio Oiticica e Lygia Clark, nas décadas de 1960 e 70, que dentre muitos outros elementos buscavam em seu trabalho eliminar as fronteiras entre obra e experiência.

Agitador cultural na década de 1930, Flávio de Carvalho, nascido em Valinhos no interior de SP, realiza em 1931 a Experiência nº 2, considerada precursora da performance no Brasil. Nela, o artista atravessa, em sentido contrário, uma procissão de Corpus Christi portando um chapéu que contrastava com o a religiosidade da situação. A reação pública a esse seu modo de vestir e dirigir-se ao grupo, quase provoca seu linchamento pela multidão de fiéis.

A Experiência nº 3, de 1956, é na verdade um dos seus trabalhos em que mais se tensiona os limites entre Arte e Moda. Nele, o artista literalmente desfila, por algumas quadras do centro de São Paulo, para lançar a sua proposta de traje de verão masculino. Conhecido escritor de colunas de Moda, a proposta desse traje apresentado como trabalho artístico performático é  composto por uma saia, meias finas e uma bata. Criada para climas quentes, e possível de ser lavada todas as noites com secagem rápida para que seja utilizada novamente no dia seguinte, o projeto escandaliza a sociedade, que recebeu imagens e descrições através da mídia, previamente alertada para que pudesse acompanhar a ação.

Quase em paralelo, a produção tridimensional de Hélio Oiticica apresenta-se em grande parte voltada para a interação com o público por meio de objetos a serem vestidos. De toda a vasta produção que auxilia a discussão desse trabalho de pesquisa, entende-se que, os Parangolés suscitam, de modo particular, questões importantes tais como elementos e recursos diversos da cor, estrutura, música, dança, palavra e fotografia.

Marcado pela intenção de integrar a arte e vida cotidiana, o artista Hélio Oiticica produz em conjunto com a comunidade da Mangueira, no Rio de Janeiro, uma série de objetos compostos por tecidos, vezes ou outras com dizeres que se referiam diretamente a pessoa que utilizava. Cada “Parangolé” só faz sentido se vestido e ativado pelo seu representante da comunidade. Esse sujeito torna-se então ‘ator/espectador’.

Portanto, o jogo estético proposto por Oiticica insere emoções, sensações corporais e a memória desse novo sujeito que participa da obra, abrindo o trabalho a novas interpretações. Assim, desestetiza o domínio artístico de suas convenções comportadas e socialmente afortunadas preferindo o afrouxamento dos limites da obra de arte.

A artista Lygia Clark emprega o elemento da vestimenta em vários de seus trabalhos, realizados nas décadas de 1960 e 70. Corpo, tecidos, estruturas e experimentação sensorial, exploradas em seu trabalho nos permitem elaborar um mapeamento de projetos de artistas e designers de moda contemporâneos que apresentam o tensionamento entre a roupa e a escultura, eixo condutor desse trabalho.

Parceira conceitual e temporal de Oiticica, Lygia Clark produz vários projetos experimentais, a partir de 1967, que buscam explorar os sentidos do espectador que veste e participa da obra. Este processo se inicia com as “Luvas Sensórias” (1967) e se expande em 1968 para a obra “O eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa” no qual um casal veste roupas cujo forro possui diversos materiais que exploram, por meio das sensações táteis do sujeito, a ambigüidade de gêneros: para o homem sensações femininas, para a mulher masculinas[9]. A materialidade de sua obra cresce e ganha aspectos de instalação em “A Casa É o Corpo: Labirinto”, também de 1968, na qual a artista assume a postura de propositora de experiências para a vivência sensorial e simbólica daqueles que a visitam e habitam. A instalação, ao ser penetrada por esses usuários, permite-lhes experimentar ambientes que se referem aos estágios da gestação.

 

Três vertentes para a roupa do artista

A questão da individualidade e do corpo são dados que acompanham a produção contemporânea de longa data. O desdobramento natural desse interesse leva os artistas a questionares tanto quanto internalizares a produção da roupa em/ para seus projetos.

O estudo é divido em três vertentes possíveis para a roupa do artista: roupa-para-a-obra-artística, roupa-como-obra-artística e enxertos-e-anexos-do-corpo.

Nesse sentido, Brígida Baltar é uma das artistas que assumem o ponto inicial dessa pesquisa. Seus projetos contemplam a primeira categoria proposta, a roupa para a obra, e apesar de sua produção não é ser usualmente associada à Moda, suscita uma discussão pertinente para a simbiose sob investigação nesse trabalho. Composta por registros fotográficos ou vídeos sem áudio, a produção da artista contempla a criação de ações performáticas que estão completamente envoltas pela elaboração específica de indumentárias. No caso do projeto “Umidades”, realizado entre 1994 e 2001, prepara um colete de plástico bolha que carrega uma série de pequenos frascos de vidro de laboratório. Portanto esse objeto sai a campo e coleta elementos da natureza transitórios e efêmeros, como a neblina, o orvalho e a maresia. A artista repete essa ação  em viagens que faz pelo estado do Rio de Janeiro. Neste caso, a materialidade do corpo da artista se dissolve na paisagem, e o que permanece são as memórias recolhidas como os cheiros, sons, se estava quente ou frio, e todo tipo de sentimento ativado pela experiência dela.

Outra experiência em que Brígida confecciona uma roupa é para a 25ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, (2002)  na qual apresenta a obra “Casa de Abelha”, vídeo-instalação baseada no desenho da colméia. A roupa “Uma roupa-favo, em bordado ‘casa-de-abelha’ que sugere favos pelos joelhos, ombros ou em qualquer outra parte do corpo”[10]. Paralelamente foram apresentados  registros em fotografia, vídeos, desenhos e alguns escritos. Segundo a artista:

“…é o mistério das coisas, do tempo, do espaço íntimo. Acho que essa ação diz do imprevisível, dos acasos, do que não se sabe. Tem uma coisa que eu descobri quando comecei a coletar: quando você chega perto da neblina, ela não está mais lá (pelo menos tão densa) mas mais adiante. Isso traz também outros significados, alguma coisa que nunca vai ser apreendida”[11]

Nota-se, portanto um padrão de investigação da artista das técnicas de costura. A artista investe sua atenção na pesquisa das indumentárias mais retas, limpas de adereços, a não ser pelos bolsos que são portantes dos frascos que utiliza, ou seja, insere o contexto da roupa em seu trabalho a partir das técnicas e formas   que melhor atendem estética e conceitualmente ao projeto elaborado, o que torna a indumentária elemento funcional necessário para as obras estudadas.

A produção de roupas como objeto artístico é também elaborada pela artista mineira Laura Lima. Neste caso a roupa é pensada para ser a obra, ou seja, elemento central do trabalho, como em seu trabalho “Novos Costumes” (2007) Laura Lima recria a experiência de uma loja com peças ao alcance do espectador[12]. A artista intitula esse trabalho como coleção de “esculturas vestíveis”, feitas em vinil transparente cuja ativação depende diretamente da interação do espectador. As questões pertinentes ao corpo, tema recorrente em sua produção, seja como suporte ou referência, são postas mediante o contato com o outro e na simbiose que as roupas fazem com quem as veste. Porém, essas roupas fogem às convenções da Moda, não possuem formas tradicionais e dificilmente seriam usáveis, considerando inclusive o material com o qual são construídas. Em um jogo com esse corpo, alterna entre formas orgânicas e geométricas, permitindo e aprisionando os movimentos de quem veste. Em comparação à Brígida Baltar, Laura Lima propõe conceitualmente uma aproximação do universo da costura como linguagem artística, tanto quanto insere a questão da anamorfose no ato de vestir sua obra a partir da reconfiguração de sua imagem e percepção corporal.

À partir desse primeiro universo investigativo, a pesquisa passa a focar outras possíveis modificações que obras de arte realizam no corpo, como anexos, roupas ou objetos que associados ao corpo traziam novas percepções da ordem estética e sensorial para aquele que o veste.

A série de trabalhos “Esculturas para Vestir” de 1994 de Luiz Hermano incorpora o ato de produzir enxertos para o corpo humano, reconfigurando sua forma e atribuindo a esse sujeito a experiência de portar novos simbolismos. Por meio dessas mutações, fotografas pelo artista em modelos que vestem suas peças escultóricas, altera-se a percepção corporal nos campos sensível e imagético, de modo a criar novas formas para o desejo.

Essas extensões de um corpo ativo, repleto de histórias de viagens, percorrem um caminho na direção de um tipo de escultura que se expande ao campo ampliado, atraindo o olhar para as próteses que se aplicam ao corpo hoje em dia, para cada vez mais perto.

Erwin Wurm, conhecido como “Minute Man” é mais uma vez um propositor, neste caso das “One Minute Sculptures” que bem respondem ao contexto analisado nessa pesquisa. O artista defende que nada é para sempre, tudo se dissolve, decai e/ou um dia será destruído (Martin Pesch, Frieze Magazine, edição 53, maio de 2000). O trabalho das ”One Minute Sculptures” evidencia a conexão com o vetor temporal na produção escultórica contemporânea. Assim como Laura Lima, Helio Oiticica e Lygia Clark, as “One Minute Sculptures” exigem a presença de uma pessoa/participante para que exista, sendo o espectador também faz parte da escultura. Comparado à História da Escultura, um minuto é uma período infinitamente curto, efêmero, que facilmente pode ser confundido com uma ação qualquer, despretensiosa, tal qual equilibrar rolos de papel higiênico contra a parede, ou segurar hastes de madeira entre as penas, ou até equilibrar canecas de chá com os pés para cima. Essas são as ações que constituem parte das formas assumidas pelas “One Minute Sculptures” e que reconfiguram o corpo humano em sua relação com esses objetos cotidianos. A simbiose proposta nesse caso,  estetiza aquilo que seria ordinário e discute essa validade incluindo em seu processo o vetor tempo na elaboração do trabalho artístico. Nesse projeto, a transitoriedade é essencial, assim como a luta contra a gravidade pela permanência da forma criada. Tempo, novamente, como o principal elemento. O que sobram são os registros, em fotografia e vídeos, de todas as etapas do processo, as tentativas, ensaios e por fim o instante em que o trabalho acontece. O trabalho se inicia, antes de cada performance, como um projeto, em desenho se desenvolve em ação e se realiza no registro. Cada série acompanha um manual, para que seja reproduzida em outras exposições que o artista participe.

As propostas estéticas de Wurm se aproximam do universo da Moda em mais de uma camada, como inspiração para editoriais de Moda e também aparecem no clipe “Something Do” da artista Macy Gray, que apesar de sua efemeridade, qualidade intrínseca à cultura de massa, se sedimenta na memória cultural contemporânea construindo as pontes pelas quais passa parte dessa simbiose levantada nesse estudo.

 

A imagem corporal contemporânea – designers que extrapolam o campo da Moda

Chegamos à questão própria do campo da Moda, com a criação projetos específicos de designers de moda que se aproximam conceitualmente e formalmente das propostas artísticas. Dentre os muitos nomes que poderiam configurar o presente trabalho, foram selecionados Rei Kawakubo, Yoji Yamamoto, Jum Nakao e Hussein Chalayan.

 Rei Kawakubo estuda arte e literatura na Keio University e após alguma experiência na indústria têxtil lança uma linha chamada Comme dês Garçons em 1969. Pouco tempo depois, em 1973, a linha transforma-se em uma empresa que vai gradativamente alcançando renome internacional. O trabalho final apresenta-se como peças conservadoras, em preto e branco, e de vanguarda,  construída em formatos assimétricos e estruturas inacabadas. Ela defende que sempre criou roupas independentes do sistema da moda, não buscando se encaixar nem que formalmente ao que o ocidente produzia naquele momento. Porém, durante entrevista a seu amigo Ronnie Cooke-Newhouse na revista Interview(2008), alega que não existe, para ela, comparação entre arte e moda, por serem sistemas completamente distintos, como designer alega que foge da classificação de artista, preferindo pensar em suas criações como algo único.

Rei Kawakubo, constantemente reafirma seu posicionamento criativo como apenas designer. Contudo, sua produção, claramente oposta à tradição da silhueta ocidental, propõe roupas que compreendem a figura humana, ampliando partes simbólicas do corpo, como ombros e quadris, com enchimentos e amarrações que claramente distorcem o desenho conhecido da silhueta humana. Com essa estratégia criativa elabora uma nova maneira de o corpo movimentar-se e instiga a assimilação das qualidades da identidade pós-moderna como a fragmentação e a complexidade à personalidade daquele que porta uma de suas criações.

Como Kawakubo, Yoji Yamamoto é também um profissional que muda de área, abandona a formação inicial em Direito e migra para a Moda em 1969, quando inicia sua pesquisa em tecidos e formas que carregam em sua memória deslocamentos sutis, semelhantes aos de Lygia Clark, que guardam características desse inacabado e com elementos que abordam a sexualidade, ora exibindo e expondo, ora camuflando e tornando a figura cada vez mais andrógena. Essa androgenia é conseguida pelo mecanismo da deformação da imagem corporal, a anamorfose. A figura torna-se tão minimalista que perde a referência do gênero, elemento importante ao longo da História da Moda, de forma a  amplificar sua proposta de ser uma base para a construção da personalidade daquele que veste.

Issey Miyake, também japonês, estuda em Paris e Nova Iorque, e em 1970  cria o Miyake Design Studio. Define-se como designer de roupas, fugindo da aura de criador de tendências ou modismos. Constrói posteriormente sua marca homônima, que em 1994 passa a dividir o cargo de diretor criativo até delegar a função para outros profissionais, dedicando exclusivamente a projetos com estudantes. Seu processo consiste em a partir de uma peça de tecido elaborar a roupa, relacionando as tradições da alta costura, como os plissados, e as novas tecnologias têxteis.

Um exemplo é o projeto denominado “132 5” desenvolvido pela equipe da Miyake Reality Lab liderada por Issey Miyake e composta por engenheiros têxteis Manabu Kikuchi e Sachinko Yamamoto e 72 alunos. Foi utilizado um programa de modelação que cria estruturas tridimensionais dobrando papel desenvolvido por Jun Mitani. Primeiramente é realizado o desenho das formas tridimensionais das peças de roupa, e em seguida planifica-se em papel, com indicação das linhas de corte e dobras. O nome do projeto, 132 5, surge do próprio significado que cada numero representa no processo, sendo que 1 refere-se a unicidade da peça, 3 à forma tridimensional que a peça se torna, 2 ao plano bidimensional, do início do projeto, e finalmente o 5, separado por um espaço, propõe o tempo em que as pessoas necessitam para transformar o objeto plano em uma roupa.

Outros projetos importantes na carreira de Issey Miyake foram “Pleats Please” de 1993 e “A-POC” de 2001, que carregam em si a linguagem do cirador.

Em “Pleats Please” as roupas são construídas á partir de uma única peça de tecido cortada e costurada de duas a três vezes maior que a peça final. Prensada entre folhas de papel sob altas temperaturas, a peça ganha forma e textura permanentes. Plissados verticais, horizontais e em zigue-zague são explorados para construir as formas arquitetônicas. Este projeto se aproxima da Experiência n 3 de Flavio de Carvalho, uma vez o tecido e a forma exigem baixa  manutenção, podendo ser lavados todos os dias e de secagem rápida. As cores porém variam de acordo com a sazonalidade do sistema da moda.

“A-POC” é um projeto baseado no conceito anterior de Miyake de praticidade de produção e de uso. As peças são feitas e comercializadas em um rolo, e cabe ao comprador escolher o comprimento das mangas e da barra, adaptando-se especificamente a cada corpo que o veste.

Brasileiro, Jum Nakao começa sua carreira na área da computação, a partir daí faz a sua graduação em Artes Visuais pela FAAP, e especializa-se em História da Moda. Sua carreira é amplamente diversificada, realizando não somente coleções de roupas, mas projetos para objetos de decoração e participações em projetos de Arte Contemporânea.

É talvez, no Brasil atual, o profissional mais híbrido no cenário de Moda, que com o projeto “A Costura do Invisível”, apresentado em 2004, durante a São Paulo Fashion Week traz para o debate, novamente e com mais força, as questões que cercam a produção de Arte e de Moda. Um desfile conceitual no qual exibe trajes feitos em papel, detalhadamente recortado e montado sobre as modelos que desfilam como bonecos de plástico, com perucas rígidas e maquiagem que de tão uniformizadas tornam difícil distingui-las uma das outras.  As “roupas-objeto” são desfiladas uma a uma, como o de costume de uma semana de Moda, a fila final se forma e após uma brusca mudança na trilha sonora, as modelos passam a rasgar aquilo que nos últimos minutos tinham se tornado objetos de desejo de todos aqueles que acompanharam ao vivo, ali na sala de desfiles, ou pela web. No fim, Jum Nakao entra filmando a platéia com dizeres “The End” impressos em sua camiseta. Se encerra ali a trajetória promissora do jovem Jum Nakao, à frente de uma empresa de moda, e possibilitando ao criador novas aberturas no campo da Arte e do Design. Sua atuação recente atesta a diversidade de suas atividades praticamente indistinguíveis dentre esses muitos campos.

 Juntamente com Jum Nakao, Hussein Chalayan, turco naturalizado na Inglaterra, transita entre os circuitos artísticos e fashion com total naturalidade. H. Chalayan se coloca como designer em primeiro lugar, porém comenta que trabalha também com uma galeria em Istambul e assina exposições em galerias e museus de Londres. Interliga portanto ambos circuitos a partir da criação de uma coleção, filmes em que ela apareça e narrativas. O processo inverso também ocorre, quando a criação de um filme o inspira para a elaboração de uma coleção. O processo é fluido e nota-se que Hussein Chalayan impõe uma equivalência para ambos os campos. A venda de seus trabalhos em galerias de arte subsidia  novos projetos de moda. Ele, juntamente com Jum Nakao, são talvez os personagens mais simbólicos na área da Moda que proõem um afrouxamento das definições de um profissional de Moda e um Artista Contemporâneo

 

O Aspecto Escultórico da Moda

 Historicamente o corpo humano é objeto e/ou conteúdo de representações visuais. Seja em ação, como é o caso de rituais e danças, ou através do desenho e da escultura, o corpo foi tema e forma seminal para a existência de momentos da arte antiga como a grega e a egípcia. A partir da modernidade, os artistas transgridem o suporte tela e do bloco esculpido e apropriam-se cada vez mais do suporte pele e carne. Ao realizar o trabalho “Art Must Be Beautiful, Artist Must Be Beautiful” (1975) a artista Marina Abramovic, artista da body art desde os anos 1960, reafirma que na contemporaneidade é essencial a presença do corpo do artista em seu trabalho.

A partir dos conceitos abordados por Rosalind Krauss, em “Caminhos da Escultura Moderna”, o termo escultura foi esticado e torcido pela crítica norte americana no Pós-Guerra, interligando processos e significações. Para aqueles que procuram a abstração o escultor é comparado ao Criador original, acrescentando novos objetos ao repertório da natureza.

Outro exemplo trazido por Krauss está na obra minimalista de Robert Morris, uma coluna, que se desfaz sobre um palco. A teatralidade está de vez intrínseca aos seus trabalhos por meio da temporalidade estendida, e a experiência corporal e sensória do espectador. Em certos, momentos fazendo parte em si do contexto do teatro, essas novas esculturas passam a carregar consigo a memória daquele lugar, levada para os espaços expositivos tradicionais, essa nova característica, pode nomear toda escultura cinética, happenings, performances, instalações, sejam objetos independentes, projeções ou adereços para atores, como vinculados a esse conceito de teatralidade.

Dilui-se então a materialidade da obra, a partir da luz ou da ação daquele que ativa o objeto. Cabe então analisar cada projeto, como propõe a autora, sobre o que é o objeto, de que modo o conhecemos e o que significa conhecê-lo. Atrelado ao conceito de teatralidade citado anteriormente alcançamos um embasamento para melhor conhecer as relações estabelecidas por meio da adesão de um anexo ao corpo a partir do qual nos questionamos sobre o quanto o conhecemos e de que modo reconhecemos aquele corpo, e por fim o que ele significa com ou sem o enxerto.

 

 Considerações Finais

 As abordagens trabalhadas nos mostram que as aproximações entre os dois campos, da Arte e da Moda, acontecem em camadas.

É interessante notar que o surgimento dos questionamentos sobre a constituição de ambos sujeitos/objetos, o artístico e o indumentário, o artista e seu trabalho, o individuo e sua roupa, surgem paralelos no tempo e se desenvolvem interpenetrando sua história, técnica, funcionalidade e estética de modo a dissolver os limites até então traçados para a sua configuração no corpo da sociedade.

Entende-se que a tridimensionalidade presente no elemento escultórico, que bem cabe à roupa e ao objeto artístico, é uma das vias de acesso para esse simbiose por suscitar a revisão constante da visualidade desses objetos de estudo: o corpo e o objeto artístico.

Dos muitos artistas passiveis esse pequeno grupo eleito colabora sensivelmente para a questão seja apresentada. Contudo, a especificidade de cada modelo criativo, entre designers e artistas também sugere a cautela que é adotada e a necessidade de fôlego renovado de pesquisa.

 

Referências Bibliográficas:

KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

JEUDY, Henri-Pierre. O corpo como objeto de arte. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.

SOUZA, Gilda de Mello. O espírito das Roupas. A moda no século XIX. São Paulo: Comp. Das Letras, 2005.

GODART, Frédéric. Sociologia da Moda. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2010.

MORAES, Eliane R. O corpo impossível. São Paulo: Ed. Iluminuras, 2002.

KLEIN, Robert. A Forma e o Inteligível: Escritos Sobre o Renascimento e a Arte Moderna. São Paulo. EDUSP, 1998

MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia tomo II. Edições Loyola. São Paulo, 2005

PESCH, Martin. Minute Man. Frieze Magazine. Edição 52. Maio, 2008, pags. 76 – 79.

BARROS, Stella Teixeira de. Onde o Ser e o Estar Igual Fora. Catálogo da exposição “Luiz Hermano”. Galeria Valú Ória. São Paulo 1997. Disponível em: http://www.luizhermano.com/stella.html Acesso em: Abril, 2011

FARIAS, Agnaldo. Jogando com Limites. Disponível em: http://www.luizhermano.com/agnaldo.html. Acesso em: Abril, 2011.

CHALAYAN, Hussein. Eentrevista concedida a Connie Wang. Revista VICE MAGAZINE. IT’S A FASHION ISSUE!. Data. Março, 2011. Disponível em: http://www.viceland.com/br/v3n3/htdocs/hussein-chalayan-737.php?page=2 . Acesso em: Maio, 2011.

Kawakubo, Rei. Entrevisda Concedida para Ronnie Cooke-Newhouse. Revista INTERVIEW MAGAZINE. Novembro, 2008

Disponível em: http://www.interviewmagazine.com/fashion/rei-kawakubo/. Acesso em: Maio, 2011.

PORTELA, Tatiana. Brígida Baltar e os instantâneos do tempo. Disponível em: http://wstutz.blogspot.com/2008/05/brigida-baltar-e-os-instntaneos-do.html . Acesso em: Junho, 2011.

Lima, Laura. Texto de parede da Exposição Novos Costumes. Disponível em: http://www.inhotim.org.br/arte/texto/de_parede/220/laura_lima Acesso em: Maio, 2011.

Nakao, Jum. Textos referentes ao projeto “A Costura do Invisível” . 2004.Disponível em: http://www.jumnakao.com.br/cstrdnvsvl.html e http://www.jumnakao.com.br/cstrlvrdvd.html Acessado em: Abril, 2011.

SALAZAR, Ligaya. Texto Curatorial para Exposição Retrospectiva de Yoji Yamamoto no Museu V&A. Londres. 2011.Disponível em: http://www.vam.ac.uk/content/exhibitions/yohji-yamamoto/about/ Acesso em: Junho, 2011.

 

___________________________________________________________________

 

[1] Gilda de Mello e Souza, O Espírito das Rouas, 2005, Pág. 34

[2] MELLO e SOUZA, G. Op cit., Pag 35.

[3] Como define o Dicionário de Filosofia tomo II de J Ferrater Mora, sua tradução literal do alemão é “espírito da época” cuja circulação se deve principalmente a Hegel, e que foi adotada e elaborada por vários autores “românticos” (…) poderia ser chamado de “o perfil” de uma época. MORA, J. F. Dicionário Y PT O, 2001, Pag 885

[4] RESENDE, José e CORREA, Patrícia Leal. José Resende. 2004. Pag 185

[5] Oiticica, Hélio. Esquema geral da Nova Objetividade. In: FERREIRA, G e COTRIN, C. (org) Escritos de Artista. 2009, Pag154 – 168

[6] O Corpo Impossível, Eliane Robert Moraes, 2005, pag 56

[7] O Corpo Impossível, Eliane Robert Moraes, 2005, pag 70

[8] A Forma e o Inteligivel: Escritos Sobre o Renascimento e a Arte Moderna, Robert Klein, pags 270-271

[9] http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=2566

[10] como explica a artista em entrevista para a revista Numero 7  da exposição da artista no Museu Vitor Meirelles em 2009.

[11]  + titulo e data de pesquisa (http://cartografiascotidianas.posterous.com/mais-sobre-brigida-baltar)

[12] idéias retiradas do texto publicado no site oficial do Centro Cultural INHOTIM disponível em : http://www.inhotim.org.br/arte/texto/de_parede/220/laura_lima  acessado em: 15/05/2011

Outros Lugares – Seminário e Conversa com Artistas no MAP BH

Centro Selva – Residência Artística no Peru – Hebert Gouvea

A experiência de Residências Artísticas me leva até o Centro Selva localizado em Pucallpa no Peru. Para esse projeto, iniciei um processo de investigação da cultura local, pois pretendia dar continuidade ao estudo de padrões de pintura corporal que tem acompanhado parte de meus trabalhos recentes. Meu processo criativo se inicia, de modo geral, com projetos ambiciosos que carregam consigo receios. Planos que são trabalhados portanto permitindo o espaço necessário para novas idéias que possam surgir.

A viagem ao Peru tinha como objetivo conhecer e aprender sobre o Desenho da comunidade indígena Shipibo-Conibo que se desdobra em de retas e curvas extremamente elaboradas em traço e cor que determinam territórios e mapas mentais que inspira a organização social esse povo.

Para que a residência pudesse ser melhor aproveitada entendi que uma visita ao Peru andino e litorâneo poderiam colaborar para a imersão que me aguardava nessa região amazônica onde se localiza a base do Centro Selva. Assim, nos primeiros 14 dias cruzei o país de leste a oeste, passando por Cuzco, Puno, Arequipa, Paracas, Nazca e Lima. Esse roteiro permitiu-me aprofundar nas distintas culturas que constituem o país.

Essa experiência evidenciou a combinação de um valor claro para mim na questão corpo-paisagem intensificada pelos contrastes, sócio culturais, tanto quanto da geografia desses lugares. Deserto-Floresta-Cidade-Campo-Montanhas-Vulcões-GrandesLagos-Oceano formam o conjunto de opções visuais e formais com as quais pude me deparar física e simbolicamente.

Compreender como organizam suas casas, cidades, territórios e sua relação de sobrevivência nessa adversidade de paisagens me alimentou de sugestões para o trabalho na residência. No deserto de Atacama inicio série fotográfica intitulada “Copi” que significa na língua Shipibo “Parte da Natureza”. “Copi” compõe-se de uma ação performática com o uso de uma peça de tecido verde de 4 metros de comprimento que comprei no mercado local. Com a contraposição do tecido sobre meu corpo faço registros visuais que demonstram a força das intempéries climáticas do deserto. Sol, vento e areia constroem uma paisagem reconhecível, porém o impróprio dessa paisagem se apresenta a partir do elemento central,  eu corpo camuflado pelo tecido, corpo estranho à situação. Estranho como um estrangeiro.

A ação buscava encontrar perfis efêmeros construídos pelo instante do lugar, buscava constituir formas do corpo pouco reconhecíveis como humano.

O trajeto trouxe também a coleta de pedras que foram utilizadas para construir uma instalação apresentada juntamente com as fotografias no segundo piso do Centro Cultural de Pucallpa. A mostra teve ainda uma reedição da performance nesse espaço expositivo. A instalação de pedras, de aproximadamente 4m2  demarcava um território, como os que havia visto em Nazca, em suas grandes extensões de terra e ordenava um dos pontos de vista mais interessantes para o  conjunto exposto. Resíduos da performance ocuparam o lugar pela combinação de uma outra pedra disposta sobre o tecido, ao lado de um ventilador.

A noite da abertura, muito movimentada, trouxe a população para o centro cultural e a resposta, tão variada quanto o público geral, foi bastante positiva.

O grupo de artistas estrangeiros com quem compartilhei a experiência da residência no Centro Selva foi outro ponto importante dessa viagem ao Peru. Eram 8 pessoas, vindas de 3 continentes diferentes, muitos de outras experiências de residências, jovens interessados na America Latina e em suas possibilidades de descoberta estética.

 

Ficha Técnica:

Diana Riesco Lind (Diretora do Centro Selva – Peru)

Karen Niemczyk (Coordenadora da Residência)

Agradecimentos: Miriam Soria, Alex Soria e Frank Soria

Exposição Confluências – Hebert Gouvea



Projeto Confluências-Pparalelo chega a sua última edição com propostas
 entre Arte e Design dos artistas: Hebert Gouvea, Monica Schoenacker e Mônica Nador.

A última edição do Projeto Confluências-Pparalelo apresenta Hebert Gouvea, Monica Schoenacker e Monica Nador no Espaço ATAL-609, em Campinas.

Hebert ocupa as salas de vitrine com o projeto “The body between”, série de objetos que exploram os limites entre Moda e Arte por meio de peças escultóricas para se vestir e objetos camuflados numa instalação de parede. A série evidencia antigo interesse e pesquisa do artista por formas híbridas presentes tanto na Arte Contemporanea quanto na Moda do século XX. O espectador será convidado para uma ambiência interativa na qual poderá vestir as peças escultóricas dispostas na Sala de Vitrine. Baseadas em estruturas de interferência sobre fotografias antigas de navios e camuflagens Razzle Dazzle.

The Body Between dialoga com os padrões visuais de linhas e faixas de cor que camuflam superfícies dos navios da Marinha há um século. Apesar desse histórico, a imagem final criada permanece bastante imponente e atual, tanto que suscita essa combinação com o campo do Design em Moda.

Na Sala Multiuso Hebert apresenta outros trabalhos que mantém essa provocação entre os limites da arte e da moda com o uso de tecidos e ilustrações.

Sua convidada para a Sala de Entrada é a artista Monica Schoenacker que tem em seu percurso profissional artístico idêntica formação e interesses híbridos entre Arte e Design. Monica apresenta a série “HomeWork” composta por alguns pequenos objetos domésticos interconectados, projetados com evidente apelo comunicacional, com os quais nos deparamos com a intimidade da casa. Essa mesma rede de relações é aplicada no painel de aproximadamente 220x
320cm.

O projeto conta também com outra convidada: Monica Nador, que apresenta duas peças da série “Autoria Compartilhada”, recentemente criada para os vãos do prédio que abrigam o Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, São Paulo. Os longos tecidos de 6m de altura, fazem parte das investigações do JAMAC – projeto de Monica no Jardim Miriam Arte Clube (SP) para criar uma linha de estampas derivadas das propostas de pintura e arte pública que vem realizando nas últimas décadas. O vídeo “Autoria Compartilhada”, exposto até o último sábado na Galeria Lucia Brito, apresenta o contexto do trabalho. Veja em: http://autoriacompartilhada.wordpress.com

Como de costume, a proposta do Pparalelo desdobra o contexto expositivo em discussões abertas das quais participam os artistas expositores, convidados especiais e o público local. Assim, a noite de abertura contou com uma mesa de discussões sobre o trinômio Arte-Moda-Design com Hebert Gouvea, Monica Schoenacker e Luiza Testa. Luisa é proprietária da Loja de Moda e Design 11.16, projeto inaugurado há 2 anos em Campinas, que igualmente apresenta diferentes linguagens por meio da exposição e venda de objetos, trabalhos artísticos e coleções de moda jovem nacional.

O evento é a oportunidade do lançamento do site de tendências criado por Hebert e que passa a funcionar a partir desse mês. www.labtic.com.br é o endereço para LAB_TIC, plataforma virtual que pretende difundir a produção jovem de Design acompanhada de breves textos sobre tendências e projetos criativos em Arte e Moda.

Abertura: exposição + mesa de discussões: 15.março.2012, as 20h
Visitação: de 16.03 a 27.04.2012 (sob agendamento contato@labtic.com.br)
Local: ATAL 609. Rua Antonio Lapa, 609 Cambuí Campinas SP fone:
3255.7689

Fotografias da Abertura: Magda Amorim

Salas de Vitrine e Sala Multiuso – Série The body between – Hebert Gouvea
e Monica Nador/JAMAC – Autoria Compartilhada
Sala de Entrada – Série HomeWork – Monica Schoenacker

[slideshow]

Bula de Intenções nº 5 em Cali, Colômbia.

A intervenção urbana – Bula de Intenções – inaugurou a formação do Grupo Pparalelo de Arte Contemporânea no ano de 2008 na cidade que sedia o grupo: Campinas/São Paulo/Brasil. Espécie de work in progress, a Bula produz novas edições em diferentes cidades. No Brasil, realizou-se em Campinas, São José dos Campos, e Salvador. Tem como sua proposição original migrar para países de língua portuguesa, espanhola e inglesa. O projeto tomou forma em Cali por meio de uma residência artística no conhecido espaço de arte Lugar a dudas, durante o mês de outubro de 2011. A intervenção ocorreu no dia 14 desse mês.

Essa intervenção urbana utiliza o carro como veículo de comunicação dos artistas com novos públicos da Arte. Forma de arte ambulante, distinta da visualidade imperativa desse circuito, é uma proposta mais sonora que visual, uma forma de arte para ser ouvida mais que visualizada, arte falante e em trânsito.

A proposta reúne 3 carros de som, adesivados com o site do grupo www.pparalelo.art.br que percorrem um circuito urbano local definido entre o centro e a periferia das cidades que o abrigam. Ao longo do dia da intervenção, os carros seguem em passeata e mantêm seus alto-falantes ligados de modo randômico e divulgam um texto com referencias sobre o papel do artista na sociedade, a condição da arte hoje e de seus elementos de reconhecimento. Por onde passou, o projeto colheu boas reações das pessoas que estranham o discurso de tom filosófico, ao invés do usual comercial desse tipo de veículo.

O percurso foi realizado na cidade de Cali, Colombia, seguindo o percurso centro-periferia, depois de um primeiro encontro com artistas locais que vão discutir com o grupo elementos da organização sócio-cultural urbana presentes em Cali. Logo depois desse encontro, o grupo segue nius 3 carros fazendo paradas estratégicas para conversas com o público em praças, colégios e demais pontos apontados no primeiro encontro. Folhetos com o texto em espanhol foram distribuídos nessas paradas para os transeuntes que vivenciaram a intervenção.

O Lugar a Dudas é um importante pólo fomentador das práticas artísticas contemporâneas, localizado em Cali, que também não é cidade-capital. A residência do Pparalelo nesse espaço reforça os laços já iniciados entre esses grupos/espaços/proposições distintas de se pensar a contemporaneidade artística nos dias de hoje.

 

Percurso percorrido:

1- Hormiguero
2- Universidads – Valle, Javeriana, ICESI
3- Centro Deportivo Panamericano
4- Parque de las Banderas
5- Siloe
6- Parques: Perros y Alamedas
7- Lugar a Dudas
[slideshow]