Centro Selva – Residência Artística no Peru – Hebert Gouvea

Residência

A experiência de Residências Artísticas me leva até o Centro Selva localizado em Pucallpa no Peru. Para esse projeto, iniciei um processo de investigação da cultura local, pois pretendia dar continuidade ao estudo de padrões de pintura corporal que tem acompanhado parte de meus trabalhos recentes. Meu processo criativo se inicia, de modo geral, com projetos ambiciosos que carregam consigo receios. Planos que são trabalhados portanto permitindo o espaço necessário para novas idéias que possam surgir.

A viagem ao Peru tinha como objetivo conhecer e aprender sobre o Desenho da comunidade indígena Shipibo-Conibo que se desdobra em de retas e curvas extremamente elaboradas em traço e cor que determinam territórios e mapas mentais que inspira a organização social esse povo.

Para que a residência pudesse ser melhor aproveitada entendi que uma visita ao Peru andino e litorâneo poderiam colaborar para a imersão que me aguardava nessa região amazônica onde se localiza a base do Centro Selva. Assim, nos primeiros 14 dias cruzei o país de leste a oeste, passando por Cuzco, Puno, Arequipa, Paracas, Nazca e Lima. Esse roteiro permitiu-me aprofundar nas distintas culturas que constituem o país.

Essa experiência evidenciou a combinação de um valor claro para mim na questão corpo-paisagem intensificada pelos contrastes, sócio culturais, tanto quanto da geografia desses lugares. Deserto-Floresta-Cidade-Campo-Montanhas-Vulcões-GrandesLagos-Oceano formam o conjunto de opções visuais e formais com as quais pude me deparar física e simbolicamente.

Compreender como organizam suas casas, cidades, territórios e sua relação de sobrevivência nessa adversidade de paisagens me alimentou de sugestões para o trabalho na residência. No deserto de Atacama inicio série fotográfica intitulada “Copi” que significa na língua Shipibo “Parte da Natureza”. “Copi” compõe-se de uma ação performática com o uso de uma peça de tecido verde de 4 metros de comprimento que comprei no mercado local. Com a contraposição do tecido sobre meu corpo faço registros visuais que demonstram a força das intempéries climáticas do deserto. Sol, vento e areia constroem uma paisagem reconhecível, porém o impróprio dessa paisagem se apresenta a partir do elemento central,  eu corpo camuflado pelo tecido, corpo estranho à situação. Estranho como um estrangeiro.

A ação buscava encontrar perfis efêmeros construídos pelo instante do lugar, buscava constituir formas do corpo pouco reconhecíveis como humano.

O trajeto trouxe também a coleta de pedras que foram utilizadas para construir uma instalação apresentada juntamente com as fotografias no segundo piso do Centro Cultural de Pucallpa. A mostra teve ainda uma reedição da performance nesse espaço expositivo. A instalação de pedras, de aproximadamente 4m2  demarcava um território, como os que havia visto em Nazca, em suas grandes extensões de terra e ordenava um dos pontos de vista mais interessantes para o  conjunto exposto. Resíduos da performance ocuparam o lugar pela combinação de uma outra pedra disposta sobre o tecido, ao lado de um ventilador.

A noite da abertura, muito movimentada, trouxe a população para o centro cultural e a resposta, tão variada quanto o público geral, foi bastante positiva.

O grupo de artistas estrangeiros com quem compartilhei a experiência da residência no Centro Selva foi outro ponto importante dessa viagem ao Peru. Eram 8 pessoas, vindas de 3 continentes diferentes, muitos de outras experiências de residências, jovens interessados na America Latina e em suas possibilidades de descoberta estética.

 

Ficha Técnica:

Diana Riesco Lind (Diretora do Centro Selva – Peru)

Karen Niemczyk (Coordenadora da Residência)

Agradecimentos: Miriam Soria, Alex Soria e Frank Soria