Lugar de Contemplação na Galeria Penteado

Exposição + Intervenção

Sobre a exposição Lugar de Contemplação:

Convite recebido como um desafio. Foi dessa forma que os artistas do grupo Pparalelo traduziram a proposta dessa exposição que já admitia em sua primeira apresentação uma proposição que pretendia tomar o espaço urbano da cidade de Campinas como parte integrante do projeto. Depois de alguns meses de trabalho de pesquisa e negociações técnicas para a viabilidade da proposta, constitui-se o projeto “Lugar de Contemplação”.

São duas instalações e uma intervenção de fachada que apresentam a proposta do Grupo Pparalelo atrelada às preocupações e interesses éticos também desempenhados pelos integrantes da Galeria Penteado. Reinaugurada em setembro de 2008, a Galeria Penteado mantém sua aposta na produção em arte contemporânea na cidade de Campinas. Para tanto, tem organizado na cidade uma seqüência de exposições de artistas tanto renomados quanto jovens que vem garantindo a agenda local de boas exposições no circuito contemporâneo. O convite feito para o grupo Pparalelo de Arte Contemporanea firmou o interesse por sua vocação em ações cotidianas de arte e formas de intervenção artística.

Esse encontro entre o espaço institucional e o urbano dá o tom do Projeto que é apresentado em conjunto com o lançamento de uma ONG dedicada à questão da preservação das árvores do Bairro Cambuí, onde se situa a Galeria. Intitulado “Lugar de Contemplação”o projeto é uma exposição que parte do interior do espaço da Galeria para escapar-lhe até a rua.  Nesse caminho encontra-se com a proposta de lançamento da ONG Movimento “Resgate o Cambuí” que se dedica ao levantamento e preservação das árvores desse bairro central da cidade de Campinas.

Exposição e ONG configuram uma combinação entre ética e estética que corresponde às propostas de trabalho do Grupo Pparalelo e dos representantes da Galeria. Assim, a partir do Texto de Heidegger –Caminos del bosque – o grupo saiu em busca de árvores selecionadas por suas copas e que foram fotografadas contra o céu repetidas vezes para gerar uma nova apreensão desse objeto. Como nos diz Heidegger: “Parece, muitas vezes, que um é igual ao outro. Porém, apenas parece ser assim.”

A visão de uma copa de árvore, como aquelas que configuram a paisagem desse lugar da cidade, há tantos anos, foi a matriz que originou a proposta pautada na percepção estética, na parada do espectador diante de coisas, objetos, idéias e propostas que merecem sua contemplação, tal qual nos acostumamos a observar os objetos artísticos.

Dentro da Galeria, em suas duas alas expositivas, será exposto um painel de teto contendo a impressão de copas das árvores em tecido (6 peças de 120 x 400 cm); e uma instalação com objetos-almofadas (20 peças de 20x20cm) nas quais páginas marcadas do livro de Heidegger permitem ao visitante reconhecer trechos que enfatizam o tema/título do projeto.

Na área externa, em frente à Galeria, estende-se um painel de grandes dimensões com outra copa de árvore. (1 peça de 600×350 cm). Esse grande painel será iluminado à noite estendendo a proposta da exposição para outros limites de tempo.

O interesse do Grupo estabeleceu-se, principalmente, pela possibilidade de uma construção conjunta entre os campos da Estética e da Ética. Essa combinação se garante pelo lançamento da ONG – projeto que já pairava as atenções dos representantes da Galeria e que ganhou novo dinamismo com a proposta do grupo.

A pesquisa sobre as condições das árvores do bairro Cambuí vem sendo realizada por Tereza Penteado, sócia da Galeria, em conjunto com um pequeno grupo de estudiosos e arquitetos que igualmente se preocupam com essa questão do bairro.

 

Pelas veredas da arte, e do mundo.
Ruy Sardinha Lopes
Filósofo, Professor de Estética e História da Arte do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP.

Aventurar-se pelas sendas que entremeiam as searas da ética e da estética é o que nos propõe este novo trabalho do grupo Pparalelo. Não estamos sozinhos: Heidegger, conhecedor dos caminhos da floresta, é nosso Virgílio moderno.
A referência a este pensador indica que o que aqui se dá a contemplar não é uma Arte que, resguardada em sua autonomia estética, nos invitaria a uma satisfação universal e desinteressada. Para Heidegger, o dar-se primordial da Arte é o “pôr-em-obra da verdade”. Não a conformidade do conhecimento e do objeto, mas, enquanto alétheia, a insistente oscilação entre velamento e desvelamento. Esta lembrança, que traz embutida sua historicidade, visa re-enraizar o homem no projeto extático do Ser, em sua abertura para o mundo.  A Arte é, pois, um acontecimento da verdade, a instauração e vigência de um mundo (sentido) e, ao mesmo tempo, aquilo que encobre (terra).
Interessa aqui destacar o modo pelo qual este acontecimento se dá. Ao constituir-se como manifestação do conflito, a Arte retira-nos do habitual, causando espanto, e faz advir a radicalidade do Ser. A Arte é, nesse sentido, essencialmente poesia.
O bosque instaurado na Galeria Penteado se, por um lado, atualiza buscas e investigações anteriores do Grupo, tanto no que se refere ao papel da arte na contemporaneidade e suas tensões com o público e a instituição arte, como no tocante aos amálgamas entre a esfera artística e os mecanismos acionados pela vida cotidiana, aqui ganha novo cariz.
Se a lida cotidiana da criação artística com o aberto do mundo traz o risco de amarrar a atenção à nossa habitual mundanidade, encobrindo, na acepção de nosso guia, a essência da Arte; a cumplicidade que aqui se almeja é de outra ordem. Assim, embora a questão ecológica e a preservação das árvores postas pela ONG Resgate Cambuí sejam o lócus a partir do qual as insurgências poéticas são acionadas, o deslocamento proposto por esta fala põe em obra imprevistas dimensões da própria realidade.
A copa das árvores, destituída da seiva que lhe dá vida e daquilo que a enraíza, aparece aqui sem serventia, como puro objeto de contemplação. Etérea e eterna, firmamento e substrato, contraposta à urgência de nossa modernização inconseqüente, transpassa os limites da arte e nos convida a refletir sobre o enigma de nós mesmos e os múltiplos modos de “estarmos-no-mundo”.
Se a perduração deste toldo/copa pode sugerir acolhimento, não nos iludamos. A presença, necessária, da palavra, ao mesmo tempo em que nos serve de bússola, mostra-nos que plurais, imprevistos e erráticos são os caminhos do bosque que o cruzamento da arte com o mundo nos faz ver e que aqui somos convidados a trilhar.

Texto de Apresentação de Márcio Lupion

Arquiteto e urbanista, Mestre em arquitetura simbólica e Doutor em arquitetura mitológica pela Universidade Mackenzie.

Trecho selecionado a partir da Dissertação de Mestrado “A Stupa – uma análise da arquitetura simbólica budista”, defendida em 1998 no Curso de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A “cidade moderna” é uma organização complexa, dinâmica e instável. Ela muda de caráter e de aspecto tal como um organismo biológico que nasce, cresce, vive e morre. Morre quando pára de evoluir, morre quando perde a razão de sua existência.
Mas, para existir essa dinâmica e evolução, é necessário que o Homem empreste de si à cidade tais características, qualificando a sua existência. Em que se constitui a cidade senão em organizações espaciais relacionadas entre si constituindo sua própria continuidade enquanto prolongamento do homem? Tal espacialidade recebe diversos nomes tais como “rua”, “avenida”, “praça”, “áreas livres”, “parque”, etc., de acordo com as suas funções, mas estas não estão, entretanto, estritamente relacionadas às funções básicas de satisfação psicológica humanas, tanto no espaço interno de sua organização como no espaço externo.
Um único trabalho de um arquiteto de renome tem bastado para classificar, determinar, precisar, preconizar todo um compêndio de teorias, princípios e regras. Apareceram tantos “ismos” que levam os arquitetos e estudiosos a viverem em constante atividade para colocarem em dia seus conhecimentos e verificar como podem classificar seus trabalhos. Isto porque não se admite que o arquiteto, o pintor, o escultor, estejam simplesmente fazendo arquitetura, pintura ou escultura; para merecerem atenção e referências precisam fazer arquitetura engajada a algum movimento ou pensamento. Não percebem que existe uma metamorfose acontecendo em altísssima velocidade e que é impossível determinar o real efeito que isto está causando ao Homem integrado às comunicações.
Seria mais útil e necessário analisar o espaço e sua organização através do “Mito-gerador”, nas obras Arquitetônicas históricas e contemporâneas, do que analisá-lo a partir de uma simples memorização de estilos, detalhes de fachadas, estruturas e materias de construção, ignorando a razão primordial que alimenta o “espírito”, que é o esclarecer o por quê se faz isso.
O “Porque” é com certeza o grande ausente do vocabulário “arquitetês” dos nossos dias. Nos contentamos com a definição estética da Obra; ela tem que ser fotogênica.
Reflexo de um tempo onde a “casca”, a forma exterior, sobrepuja o “interior”, os valores que elevavam o homem através da Arte e Arquitetura parece que desapareceram junto com as tradições Iniciáticas dos construtores góticos… estas tradições que, como o Budismo com suas Stupas e Templos, elegiam o Mito e a Comunidade como Partido Arquitetônico.
Onde este desinteresse pela analise sobre o significado afetivo da obra “explode”? No estudante de arquitetura e, em pior escala no usuário, ambos vivendo perdidos nas experiências utópicas dos pensamentos “istas” que, na maioria das vezes, retiram a possibilidade de empatia do usuário para com o Espaço Urbano.

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